Histórico do Boi Pintadinho

 

Folguedos envolvendo a figura do boi são comuns em várias partes do Brasil, começando pela Amazônia com o famoso e rico "Boi Bumbá" da Ilha de Parintins; no Maranhão, o "Bumba Meu Boi"; no Piauí, o "Boi Pirilampo"; no Sul, em Santa Catarina , o "Boi de Melão"; no Norte do Espírito Santo, o "Reis de Boi" e no Sul, o nosso "Boi Pintadinho".

Assinala-se uma semelhança com o Bumba-meu-boi do norte do país, como uma versão migratória e só Deus sabe como veio parar nessas regiões do sul. O Boi Pintadinho entrou no Espírito Santo pelo sul, vindo do Estado do Rio de Janeiro, por Bom Jesus do Sul, expandindo-se por Guaçuí, Alegre, São José do Calçado, Apiacá e outros municípios próximos, naturalmente, como sempre ocorre, recebendo as influências locais. A apresentação era, geralmente, no mês de Junho, na época das Festas de São João, ou nas festas de São Sebastião, no mês de janeiro, porém, ultimamente aderiu aos folguedos carnavalescos. Muqui é o único lugar do Brasil onde no Carnaval se comemora com o "Boi Pìntadinho", não se vê mais os Bailes de Salão.

Conforme veredito do povo local, o primeiro Boi de Muqui surgiu na década de 1940, na Rua do Sovaco, no Bairro Boa Esperança. Chamava-se "Boi do Cafunço" que começou a competir com o "Boi do Bijoca" no primeiro carnaval de que se tem notícia. Hoje Muqui já conta com quase 20 grupos adultos e infantis que não só se apresentam durante o Carnaval como também quando são convidados em eventos paralelos durante o ano.

Mestre Renato Pacheco , estudioso de nosso folclore, estudou o Boi Pintadinho, incluindo-o no Ciclo do Boi, relacionado com o desenvolvimento da pecuária desde os primeiros dias da colonização do Brasil. Isso por um lado se deve ao fato da relação amistosa dos seres humanos com o boi, que representa saúde, fartura e alegria, oferecendo-nos alimento e vestimenta, aparecendo assim como motivo para festas, imprimindo sempre cunho lúdico e religioso aos folguedos populares.

É uma manifestação popular aplaudida pelo povo que se diverte com as evoluções do Boi, com os vaqueiros em seus cavalos e crianças e adultos em suas mulinhas , desfilando um a um pela rua principal fechada por duas grandes porteiras, competindo entre si. O "Boi do Sumidouro" além do Boi e de suas mulinhas traz todos os anos os altíssimos bonecões com motivos sempre diferentes que se balançam ao ritmo contagiante das baterias. Da. Lilica, esposa de Manoel de Freitas Lima, se esmera anualmente preparando as fantasias, recheando enormes e longas cobras com areia que saracoteiam pela avenida tirando o fôlego dos espectadores.

Seu batuque é contagiante sob animada queima de fogos, a cada bloco que passa, cada um representando um bairro ou fazenda, com nome, cores, alegorias e fantasias próprias.

Os "times" passam o ano inteiro preparando novas roupas e capas para os Bois e ensaiando as evoluções cada qual com sua " Espadeira ", a madrinha que vai à frente do Boi. Mesmo as equipes mais simples se esmeram e todos superam o show do ano anterior. As fantasias não se repetem, embora mantendo a cor típica do grupo e algumas características marcantes de cada equipe. 

A ordem de entrada na " Porteira do Boi " é por sorteio e os desfiles continuam entrando na avenida até as 4 da manhã na presença de uma animada platéia, que por dia passa dos milhares, que muitas vezes sai da cama para apreciar o Boi de sua preferência. Os Bois são a diversão da criançada, pois eles fogem às pressas quando os Bois correm em sua direção, como manda o folclore. Pairam no ar várias indagações dessa apresentação tão singular, de como se originou, de onde saiu e, sobretudo, porque se mantém e atravessa gerações. 

Nos últimos anos, criou-se a versão feminina do Boi com um bloco totalmente formado por mulheres, vestidas em tons de rosa-choque, que acompanham a Vaca Mocha , uma simpática vaquinha (bem perua!) cor-de-rosa. Com a migração da população, de turistas e de milhares de visitantes, como na Folia de Reis, o Município gera emprego e renda, mais uma vez abrilhantando suas tradições ao sediar a Cultura Popular do sul do Estado. Parabéns, Muqui, Cidade Menina!

 

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