Biografia - Dirceu Cardoso

 " Estou aqui esperando a morte como compensação pela vida... mas ela está demorando, já devia ter chegado!" Dirceu Cardoso

 

Nasceu em Miracema, Estado do Rio de Janeiro, em 4 de janeiro de 1913, filho de Adalgiza Leite Cardoso e Melchíades Cardoso. Foram seus irmãos Nadeje, Danilo, Liège, Evelyn, Brissac e Expedito. Gostava de jogar bola e banhar-se no Ribeirão Santo Antônio e vendia goiabada pelas ruas para ajudar seus pais. Cursou o primário no Ginásio Estadual Dr. Ferreira da Luz, o secundário no Ginásio de Miracema.

 

Formou-se aos 16 anos e manifestou desejo de estudar Direito. Foi para Niterói onde cursou os 4 anos de Universidade e aos 20 anos formou-se advogado. Sem dinheiro não pôde comprar o terno para a formatura, o que não lhe permitiu participar das solenidades. Voltando a Miracema, lecionou História Natural e Biologia no Ginásio de Miracema nos idos de 1933.

 

Ao iniciar-se a Campanha Separatista (para separar Miracema de Pádua) já aos 20 anos tornou-se uns dos principais oradores dos comícios em cada esquina e com outros oradores formou um grupo chamado "Os Quatro Diabos", sendo um deles seu pai, um proeminente jornalista, entre outras atividades. Em 1934, o Interventor do Estado do Rio cedeu ao movimento e deu a Dirceu a incumbência de entregar uma carta ao Almirante Ary Parreiras onde concordava com a separação de Miracema da cidade de Pádua.

 

Neste ano político, Dr. Dirceu foi convidado a dirigir o Colégio de Muqui pelo Sr. Innocêncio Constâncio da Silva, agricultor em Muqui e comerciante de madeira em Colatina, além de prático em dentista e mineralogista, tendo sido indicado a ele por Lavaquiel Biosca, e Dirceu no discurso de despedida disse para o povo da sua cidade: " Tangido pelos ventos da desgraça e da desventura política, abandono minha cidade natal ".

 

Foi para Muqui, onde assumiu a direção do então Gymnasio Municipal e Escola Normal de Muquy, firmando-se como ótimo diretor, professor enérgico e disciplinador. Casou-se em fevereiro de 1942 com Lisete Affonso da Silva, filha de Innocêncio Constâncio da Silva e Ana Rita (Anita) Affonso da Silva, tendo quatro filhas, Liège, Denise, Liana e Ângela. A família passou a morar no Colégio Don Fernando, ex-convento, próximo ao complexo do Ginásio, que também serviu para abrigar o internato feminino sob o comando de Da. Lisete.

 

O Colégio floriu e logo foi conhecido por todo o Estado e fora dele, chegando a manter cerca de 380 alunos internos fora os externos. Transmitia, tanto aos alunos esforçados como aos rebeldes, sentimentos de honestidade, patriotismo e ética para a vida. Dirigiu o Colégio de 1935 a começo de 1953, período em que se destacou por seu esmerado ensino e pelas atividades esportivas que incentivava com afinco. Após o fim da ditadura Vargas, a vocação política de Dirceu levou-o a disputar a Prefeitura de Muqui pelo PSD (Partido Social Democrático), sendo então eleito em 1947.

 

Igualmente ao seu pai, Melchíades, em Miracema, Dirceu foi Prefeito e jornalista em Muqui. Foi prefeito de dezembro de 1947 a janeiro de 1951. Nos idos de 1947, foi também Secretário da Educação e Saúde. Fundou o jornal "O Município", semanário independente, que circulou pela primeira vez em março de 1948. O jornal não era só lido em Muqui, mas em todo o Estado, por causa do seu prestígio como político e dos ataques desfechados sobre seus adversários. Como Prefeito, construiu a alameda central da cidade, com iluminação subterrânea e sombreamento. Urbanizou a frente da Matriz demolindo um velho muro de pedras e construiu a escadaria ao lado do prédio da Prefeitura que dá acesso à Igreja.

Em maio de 1948, fundou o Muqui Atlético Clube; lançou a pedra fundamental da Maternidade Martagão Gesteira, principal hospital da cidade, terminado em 1955, onde em 1968 foi construído um pavilhão com duas enfermarias que traz seu nome. Neste mesmo dia também foram inaugurados o Estádio "João Vieira da Fraga" em cerimônia concorridíssima, cuja renda foi a maior já conseguida na cidade. Criou o primeiro serviço instaurado no Brasil de assistência ao trabalhador rural, com assistência médica e cinema, que recebeu voto unânime de aprovação do Congresso Nacional de Municípios Brasileiros, no Hotel Quitandinha, em Teresópolis, cuja legislação foi solicitada por várias comunas brasileiras. Representou o Município no 1º. Congresso Brasileiro de Municípios, sendo membro de sua comissão organizadora e sendo eleito 2º. Vice-presidente da Associação Brasileira dos Municípios.

 

Em outubro de 1948, fundou a Escola de Música "Manoel Vicente de Castro", criou o Centro Cívico Municipal, construindo seu palco, sua varanda lateral e as instalações internas, sendo que ali funcionou por anos, até que o CCM conseguisse sua sede própria, cedendo temporariamente o local para o Fórum da Comarca, hoje o salão-nobre da Câmara Municipal. Antes disso, os bailes e festas aconteciam no Nacional Club, na antiga sede do Sindicato Rural. Construiu, calçou e pavimentou a Av. Avides Fraga, em homenagem ao ilustre Prefeito, seu antecessor. Abriu a estrada da Pedra Negra – São José, estabelecendo a ligação Muqui x Mimoso, por aquele setor. Edificou as escolas típicas rurais de Gironda, Desengano, Aliança e Cachoeira Alta, com auxílio do Governo Estadual da época.


Também em 1948 inaugurou o Campo de Aviação em um tempo recorde de 15 dias com um emocionante sobrevôo de 12 aviões e posteriormente adquiriu na cidade do Rio de Janeiro o avião "Aeronca", importado dos Estados Unidos, que recebeu o nome de "Capixaba". Porém o avião de 3 lugares sofreu um grave acidente em 1949, caindo logo após a decolagem na encosta de um morro, num matagal, praticamente sobre uns lavradores que só tiveram tempo de largar suas enxadas, incendiando-se instantaneamente, matando seus três ocupantes o que enlutou a cidade. Antes disso, fazia escala em Muqui o avião "Stinson" também para 3 passageiros, que mantinha vôos entre Vitória, Rio, Belo Horizonte e São Paulo. Infelizmente, em seu 4º. vôo vindo de Vitória, o Espírito Santo sofreu o seu primeiro acidente aéreo, quando o "Stinger" caiu sobre a propriedade dos Dayer & Filhos e a garagem de Virgínio Pavani. Seus ocupantes sofreram fraturas graves, mas sobreviveram.

 

O "Capixaba" não estava no seguro. Os passageiros levavam vultuosas somas em dinheiro para proceder a pagamentos e negócios nas cidades de destino e as pessoas que estavam no local viram pacotes de notas sendo devorados pelo fogo. O prefixo do Aeronca era PP-DRY. Ele traria jornais diariamente para Muqui. Frei Laurentino esteve presente na ocasião da bênção de inauguração do avião. O Dr. Dirceu era o 4º. Passageiro a embarcar. Como não viajou nele por um imprevisto, ao saber do acidente, sentiu-se nascer de novo.

 

Nesta ocasião, Dr. Dirceu viajava com alguns amigos no carro de Antonio de Almeida, quando foi atropelado na passagem de Santa Rita pelo trem de socorro que subia de Mimoso para Muqui. A máquina, chocando-se contra o carro, atirou-o contra o barranco abrindo passagem deixando-o bastante danificado. Se o trem viesse em maior velocidade teria esmagado a todos, que por sorte saíram ilesos.

 

Em novembro do mesmo ano foi inaugurado o gradil do Cemitério do Camará, distrito de Muqui. Em 1949 Dr. Dirceu instalou a Biblioteca "Cyro Duarte" que hoje funciona no prédio da antiga Companhia de Força e Luz. Neste mesmo ano foi parabenizado pela ajuda que prestou como Prefeito para a instalação da Companhia Telefônica em Muqui. Sancionou uma Lei que autorizou o Poder Executivo à compra de um terreno que abrigasse 10 casas para os funcionários da Ferrovia Leopoldina, todas com 3 dormitórios.

 

Em 1949, Dr. Dirceu recebeu um telegrama comunicando que, por unanimidade, o Conselho Desportivo Escolar do Estado havia escolhido Muqui para sediar as Olimpíadas de 1950, a primeira vez fora de Vitória. Muqui hospedou cerca de 400 alunos de 12 colégios do Estado, tendo sido a parada escolar de 7 de Setembro a maior parada já ocorrida na cidade, desfilando 1000 alunos secundários. Foi construído o ginásio coberto para as partidas de vôlei e basquete, conhecido por Gymnasium, o atual prédio do Grêmio. Muqui saiu vencedora em todas as modalidades, graças ao valor que dava aos esportes como parte importante na educação. Dr. Dirceu empenhou-se ao máximo para honrar a fama e o renome do Colégio pelo país e a data ficou marcada como o maior e mais organizado evento esportivo do interior do Estado.

 

Em junho de 1950 fundou o Clube Recreativo dos Operários e, em 24 de junho, apaixonado que era pelas Folias, instituiu o Dia do Encontro das Folias de Reis, a ser realizado todo Dia de Reis, 6 de janeiro, a partir de então. No festival de 1956 esteve presente o fotógrafo e folclorista internacional Maurice Gautherot, que na ocasião levou para a França duas máscaras do Palhaço (figura folclórica das Folias) Chiquinho, da Folia da Fazenda dos Andes, desde então em exposição no Museu do Homem em Paris. Dr. Dirceu conseguiu verba para a construção do prédio próprio para o Jardim da Infância, que vinha funcionando sem sede desde a década de 1930, cuja pedra fundamental foi colocada em 1950. Realizou-se no seu tempo a 1ª. Exposição Agro-Industrial do Município.

 

Também em 1950 foram iniciados os serviços da nova rede de água, ano em que houve uma enorme tromba d'água que resultou em um prejuízo de 15 milhões de cruzeiros (moeda da época) à população, quando 28 casas desabaram e a cidade contou com sua bravura e a dos alunos do Colégio para minimizar o sofrimento do povo desabrigado. Ele mobilizou os prefeitos de todo o Estado durante a noite e já no dia seguinte com tantas doações renasceu a esperança na cidade. Instalou no seu governo o Posto Telefônico de Companhia Telefônica Brasileira, em prédio adaptado pela Prefeitura. Adquiriu a primeira motoniveladora da Prefeitura. Iniciou a prática no Dia de Muqui do hasteamento em frente ao edifício da Prefeitura das bandeiras das nações colonizadoras do Município. Uma de suas principais obras foi a segunda adutora de Santa Rita, com cerca de 2000 m de tubos de ferro centrifugado e que custaram aos cofres municipais aproximadamente Cr$ 700.000,00.

 

Em janeiro de 1951, com poucos recursos, construiu o Parque das Lavadeiras, com o intuito de facilitar a vida das lavadeiras da cidade, marco este até hoje mantido como patrimônio da cidade, por ter sido o primeiro no Espírito Santo, talvez no Brasil, e tomou o nome de uma das mais antigas lavadeiras da cidade, Dona Minervina. Poucos dias depois inaugurou a escadaria da Igreja Matriz sob grandes festejos. Entre outros feitos, sancionou a Lei que autorizava o Serviço ao Trabalhador Rural, quando inaugurou a Escola Rural da Aliança, o prédio e a residência para professores e também a Escola Rural de Fortaleza, construindo o educandário e a moradia para o professor. Doou aos Correios e Telégrafos o terreno onde se construiu a atual agência Postal Telegráfica, inaugurada em 1951. Alargou a Rua Cel. Pedro João, no Entre Morros, a fim de ali ser realizado o mesmo plano de urbanização da entrada oposta da cidade, recuando a linha férrea.

 

Foi um Prefeito que sempre contou com a Câmara Municipal, cujos membros sempre foram colaboradores, prestimosos da administração. Foi um Prefeito operoso e empreendedor. Sua fama de educador, de orador e de bom administrador credenciou-o aos 37 anos para a disputa de uma vaga para Deputado Estadual, elegendo-se com a maior votação dos deputados da época, tornando-se líder da Assembléia. Em fins de 1950 Dr. Dirceu Cardoso terminou sua gestão como Prefeito, sendo eleito Deputado Estadual em 1951, mas continuou como Diretor do Colégio de Muqui até começo de 1953, momento em que o vendeu para a Ordem Agostiniana diante da dificuldade de encontrar alguém que assumisse o seu lugar para dirigi-lo. Em 1952, durante o Banquete da Solidariedade, diante uma calúnia política, Dr. Dirceu se defendeu publicamente: "Se me fosse dado escolher entre a vida e a honra, não titubearei em escolher a segunda, preferindo que me tirem a primeira, que será uma morte menos dolorosa".

 

Aos 41 anos foi reeleito com grande votação e credenciado para Deputado Federal aos 45 anos. Nos 12 anos que passou na Câmara, integrou várias comissões e teve oportunidade de visitar 10 universidades americanas. Foi nomeado pelo Presidente da República representante do Brasil na ONU, com sede em Nova York Em 1957 a Assembléia aprovou o projeto do Dr. Dirceu que concedia auxílio ao Colégio Santo Agostinho comprado pelos padres em troca da gratuidade aos seus alunos externos. Em setembro de 1960 recebeu o Título de Cidadão Muquiense. Representou o Estado na fixação do marco definitivo entre os estados do Espírito Santo e de Minas Gerais, na localidade de Café Ralo, e pôs fim aos conflitos que envolviam as populações dos dois estados. Foi membro da Comissão de Energia Nuclear, sob a presidência do Senador Itamar Franco. Ele denunciou aos órgãos internacionais a construção de uma usina atômica à beira-mar, Angra II, o que motivou investigações.

 

Sua grande conquista foi ao apagar das luzes do governo de Juscelino Kubitscheck, quando conseguiu a criação da Universidade Federal do Espírito Santo, batalhando pela federalização da U.F.E.S., último ato de Juscelino em 1961. Outra grande notoriedade nacional foi ler no Congresso a carta-renúncia do presidente Jânio Quadros. Depois de três mandatos consecutivos como Deputado Federal, seu último desafio foi o Senado da República. Dirceu sempre lutou contra os empréstimos externos, conseguindo deixar o Senado paralisado por meses. Como Senador pronunciou mais de 1.100 discursos prestando relevantes serviços à Nação, tendo recebido de autoridades as palavras: " O senhor está desempenhando um papel importante e patriótico, que a bancada do Governo é que deveria estar fazendo... Não sabemos o que seria do Brasil se estes empréstimos fossem aprovados ".

 

Em fins de 1972, Dr. Dirceu e Idalécio Carone, que havia sido seu aluno, terminaram as negociações no que se referia à apresentação de um programa político semanal na Rádio Cachoeiro, de Cachoeiro de Itapemirim, gloriosa emissora que abriu a golpes de talento e de luta uma clara posição na vida do Sul Capixaba. O Programa tomou o nome de "Falando Francamente" onde Dr. Dirceu fazia exame crítico da situação política e administrativa do Estado sob todos os seus ângulos. O primeiro programa foi ao ar em maio de 1973. Depois de um ano no ar havia realizado 48 palestras com poucas falhas, apesar da distância entre a Câmara em Brasília e a Rádio em Cachoeiro Dirceu apanhava o avião das 18:00h (mesmo transmitindo na Hora do Brasil em alguns programas) no sábado, chegava ao Rio às 20:30h, pegava o Noturno da Leopoldina às 22:30h, chegando em Campos às 7:00h no domingo, onde um carro especial o apanhava para levá-lo a Cachoeiro, para participar do programa ao meio-dia. Ele costumava dizer: - "Por ideal e bem-servir, até o sacrifício é felicidade!".

 

Em 1973, por ato do Presidente da República, Emílio G. Médici, o Deputado Dirceu Cardoso foi distinguido com as honras de estagiário da Escola Superior de Guerra ao lado de altas patentes das Forças Armadas. A Escola Superior de Guerra é uma instituição criada pelo Governo Federal para estudo e equacionamento da Política Nacional de Segurança e Desenvolvimento, como órgão de altos estudos dos altos escalões do país. A Câmara dos Deputados indicou umas dezenas de seus membros e Dirceu foi designado. Muitos poucos são recrutados após profundas investigações e sindicância. Por fim, são eleitos, além de pelo voto do Chefe da Escola Superior de Guerra, pelo aceite do Presidente da República que tem direito de escolha e de veto. No mesmo ato, o Presidente da República escalou 28 coronéis do Exército, Marinha e Aeronáutica que fariam o curso de Estado Maior e Comando das Forças Armadas paralelamente aos estagiários.

 

Em junho de 1973 os estagiários foram divididos em 5 grupos que tomariam diferentes direções ao exterior. Um avião da FAB levou Dirceu, ao lado dos coronéis, acompanhados de outros 30 estagiários e 5 civis para uma viagem a cinco países do Velho Mundo. Levavam a incumbência de prepararem relatórios sobre os assuntos e estudos que deveriam ser entregues logo à sua chegada. Em comemoração ao 15 de Novembro, Dr. Dirceu proferiu, na base da Escola Superior de Guerra na Fortaleza de São João no Rio de Janeiro, a única oração do dia e seu discurso, sobre o entendimento que deveria reinar entre os civis e os militares, foi posteriormente publicado em várias revistas militares, após ter sido aplaudido de pé por vários minutos pelas mais altas patentes presentes. No final de 1973 teve hepatite após o curso da Escola Superior de Guerra, ficando curado a tempo em março, quando começaria a lida parlamentar em Brasília, levando-o a se ausentar por muito tempo de Muqui contra a sua vontade.

 

Foi considerado pela Imprensa como o Senador mais atuante em 1980 e eleito O Senador do Ano em 1981 especialmente pela sua "luta de um homem só" contra a inflação, a corrupção, as mordomias e o desperdício de dinheiro público, sendo verdadeiro paladino da instituição parlamentar. Reeleger o grande senador capixaba foi um ato de justiça do povo do Espírito Santo. Dr. Dirceu também foi responsável por muitas emendas. Em 1983, Dr. Dirceu conseguiu aprovar o projeto-lei que criaria a Universidade Agrícola em Muqui, porém não foi recebido, sendo reaproveitado para a cidade de Alegre.


A idade já pesava e não concorreu a Governador do Estado do Espírito Santo. Foi convidado por Tancredo Neves para ser subchefe da Casa Civil, afirmando que não cederia Dr. Dirceu ao Estado. Depois de cumprir seu mandato de Senador, foi Secretário de Segurança Pública e Presidente do Porto de Vitória de 1985 a 1990. Voltou a Muqui, sua terra adotiva, neste meio século de vida política, raramente usava um carro oficial, não empregava familiares ou amigos e terminou seus dias em Muqui praticamente sozinho com uma modesta aposentadoria.

 

Porém, sua vida não trouxe apenas glórias. Nos debates ferozes na Assembléia e na violenta política capixaba de então fez vários inimigos, inclusive internamente em Muqui. Em 1983, Dr. Dirceu visitou as ruínas do Colégio de Muqui que havia sido demolido sem apresentar uma rachadura. Aqueles pavilhões e campos de esportes construídos tijolo por tijolo, pedra por pedra na sua mocidade com dedicação, luta e carinho haviam desaparecido deixando apenas um vácuo de recordações dos tempos de glórias do Colégio. E com profunda dor no coração, disse: " Mataram um filho meu! ".

 

O melhor Colégio do Estado acabou demolido por seus inimigos políticos puxado por tratores em fins de 1971, começo de 1972. Hoje toda a área está em total abandono, depois de várias reformas dos prédios frágeis, hoje interditados, construídos no local, na tentativa frustrada de apagar o passado brilhante. Em sua última entrevista em 2001, Dr.Dirceu Cardoso disse: " Estou aqui esperando a morte como compensação pela vida... mas ela está demorando, já devia ter chegado! Além do mais, eu quero ir dormir com minha querida companheira, enterrada aqui em Muqui ." Todos os domingos sem falta ele vestia seu melhor terno e levava um buquê de flores para depositar no túmulo de sua amada esposa, Lisete. Dizia ainda que apesar dos feitos, lamentava ter trocado a vida de educador pela de político.

 

Acabou seus dias solitário, triste e amargurado, assistindo a toda uma vida derrotada. Apaixonado que era pela Folia de Reis pediu que seu enterro fosse seguido por um desfile sob o cantar cadente de uma Folia. Faleceu no Rio de Janeiro, mas foi enterrado em Muqui no dia 6 de março de 2003, acompanhado por parentes e autoridades. José Sarney e outras personalidades enviaram coroas em caráter de amizade e reconhecimento pelos seus trabalhos e qualidade de caráter. Duas mil pessoas passaram pelo seu velório entre moradores, amigos e autoridades. Mais de duzentas seguiram seu cortejo fúnebre, um helicóptero vindo de Vitória fez tomadas aéreas do acontecimento.

 

A Assembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo em Vitória deu seu nome ao plenário, hoje Plenário Dirceu Cardoso, assim como Miracema, sua cidade natal, em 2005, ao prédio da Câmara Municipal, cujos móveis maciços, no local até os dias de hoje, foram entalhados por seu pai, Melchíades, além de jornalista e escritor, um excelente carpinteiro.

 

Jathir Moreira, prefeito de Cachoeiro de Itapemirim em 2003, decretou luto oficial por 3 dias à sua morte. Theodorico de Assis Ferraço, prefeito de Cachoeiro em 2004, denominou o Centro de Capacitação e Pesquisa do Ensino Fundamental de Cachoeiro de Itapemirim – CECAPEF, na Cidade Universitária João Paulo II – João de Deus, como "Dr. Dirceu Cardoso". Também em 2005, a Associação dos Ex-alunos do Colégio de Muqui homenageou Dr. Dirceu, selando ao seu túmulo uma placa de agradecimento e saudade.

 

Em razão da aprovação do Projeto-Lei da Deputada Luzia Toledo, Lei No. 8255 do Diário Oficial de 13 de janeiro de 2006, o Governador do Estado do Espírito Santo, Paulo Hartung, denomina a nova Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio "Senador Dirceu Cardoso" resultante da união do antigo Colégio de Muqui, hoje Escola Estadual de Ensino Fundamental "Avides Fraga" com a Escola de Ensino Fundamental "Muqui", embora sob planejamento, embora seja do conhecimento de todos que em breve esta grande escola virá engrandecer o Município de Muqui, além de homenagear este passado de glórias que nasceu sob a batuta do Dr. Dirceu.

 

Muqui vinha lutando há mais de 30 anos para montar um Museu, que agora está perto de ser reinaugurado em razão de um Convênio com a SECULT, em homenagem à memória deste homem, com o acervo de 200 peças que foram salvas da demolição, homem este que elegeu Muqui sua cidade menina, levando-a a ser conhecida e falada aos quatro ventos por uma inteira nação. Ainda hoje por todos os recantos deste país, e fora dele, através de personalidades em todas as áreas, seus ex-alunos orgulhosamente carregam o exemplo de honradez, dignidade e amor à pátria no coração.

 

Obrigado, Dr. Dirceu Cardoso! Muqui se sente honrada por tê-lo recebido.

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