História do Município

Situado ao sul do Espírito Santo, à beira do Rio Muqui, afluente do Rio Itapemirim, a 239 m acima do nível do mar, o município é rodeado por lindas montanhas de pedra, ricas em granito, e por farta vegetação. Seu rico casario eclético é da década de 1920, época de glória dos senhores do café, hoje patrimônio histórico finamente preservado com 200 casarões tombados na esfera estadual, levando o município a ser incluído no PACH (Plano de Ação das Cidades Históricas) em 2010. Muqui constitui cerca de 60% do conjunto arquitetônico tombado pelo Estado.

Há algumas versões para a origem do nome Muqui, algumas lendas que os moradores ouviram dos antepassados e outras traduções étnicas da palavra. É importante registrar que muitas das vezes os documentos a respeito de nomes, tanto de pessoas como de localidades, eram escritos por pessoas não letradas, ou seja, exploradores, soldados, posseiros, entre outros, que registravam o que viam sem a preocupação de manter uma caligrafia e ortografia correta, ainda mais se tratando de palavras indígenas, de difícil pronúncia e escrita.

Analisando-se o ofício expedido por Gaspar Antônio da Costa Leal (1848) existe a informação da existência de um quilombo nas cabeceiras do Rio Moquim que deságua no Itabapoana em Campos dos Goitacazes, RJ, considerando-se que Muqui faz parte da Bacia do Rio Itabapoana, consequentemente Gaspar estaria se referindo ao Rio Muqui, confirmando a derivação da palavra Moquim para Muquim e depois Muqui, além de informar, garantindo a existência de um quilombo nas proximidades do Rio Muqui, que tem duas cabeceiras, levando-nos a crer que a região estava mesmo sendo colonizada antes de 1848, como explicado adiante.

Folheando-se o Dicionário dos Botocudos de Bruno Rudolph, de 1909 (Rudolph, Bruno. 1909. Wörterbuch der Botokudensprache. Hamburg: Fr. W. Thaden), grupos que habitavam os arredores, notam-se dois vocábulos indígenas que chamam a atenção: Mukijep, que quer dizer "subir, escalar" e Mukijap, "ir rápido", levando-nos a crer em mais esta possível origem do nome Muqui, já que "Muki" trata-se de um fonema idêntico. Muqui talvez seja a forma encurtada de Mukijep ou de Mukijap, remetendo-nos à hipótese de que estaria designando "rio de águas rápidas", ou "rio que atravessa altos morros a serem escalados", ambas possibilidades confirmadas geograficamente, neste último caso o nome designado à região, passando depois ao rio. Já no Dicionário da Língua Puri (Torrezão, Alberto de Noronha. 1889. Vocabulário Puri. Revista Trimensal do Instituto Historico e Geographico Brazileiro, Tomo LII, Parte 1a., p. 511-514. Rio de Janeiro) não foi encontrado nenhum verbete coincidente foneticamente que pudesse sugerir a origem do nome em questão.

Outros dizem que na região havia um carrapatinho (ou ácaro-vermelho) chamado Mucuim. Foi encontrado no mesmo dicionário da linguagem dos botocudos o verbete "mum kui ou njukuim", que se refere ao carrapatinho que pica, provocando odor forte e muita coceira, encontrado em plantas aquáticas de açudes, palavra que de Mucuim teria passado para Mucuí e finalmente Muqui. Porém, considerando que os botocudos tinham o fonema completo Muki fazendo parte das palavras Mukijep e Mukijap, talvez não tenha sido necessária a corruptela Mumkui com M para ser reduzido a Muqui.

Já "na região dos Andes Centrais, mais precisamente no Peru, Equador, Bolívia e Colômbia, Muqui ou Muki refere-se a um pequeno duende que vive dentro de minas. O Muqui é aparentado com os "anões" lendários que habitam as várias minas no mundo. Muki no dialeto andino Kéchua significa "umidade" ou "úmido". Por isso é dito que Muqui aparece em lugares onde há água". Aqui poderia supor-se uma coincidência caso o Rio Muqui tenha recebido este nome se a "umidade" de suas águas "abrigassem pequenos duendes".

"Pela tradição, o Muqui é um pequeno ser, com corpo fora de proporção. Sua cabeça é unida ao tronco porque não tem pescoço. Sua voz é grave e rouca, discordando de sua estatura". Com este relato poderia se supor mais uma coincidência, uma vez que os puris-coroados eram baixos e encorpados conforme dizem os historiadores, portanto o rio pode ter recebido este nome em decorrência de estes índios de pouca estatura habitarem a região.

Quanto a esta tradição andina, "o Muqui gosta de enviar assobios penetrantes que anunciam perigo. A lenda diz que é possível fazer um pacto com um Muqui para se enriquecer. O Muqui promete realizar a "missão" em troca de coca, álcool e até da companhia de uma mulher para mitigar a sua solidão. Mas o resultado do pacto é quase sempre trágico, porque se a promessa não for cumprida o anão se enfurece tirando-lhe a vida". Aqui se poderia comparar novamente já que é sabido que nossos silvícolas trabalhavam em troca de cachaça, levando novamente a crer na possibilidade de a palavra Muqui ser familiar pela semelhança das tradições orais vindas de tribos distantes, além de os terríveis ataques contra os aldeamentos de brancos, coincidindo com a possível revanche. "A fusão da cultura indígena com a cristã supõe também a inclusão de crenças ocidentais com respeito a este mito." (Jorge Lira e Alfonsina Barrionuevo).

Porém, quanto ao nome Muqui significar "entre morros", tende-se a outro entendimento, mediante a origem do topônimo do idioma indígena Tupi-guarani "Camapuã" que foi consagrado pela tradição como "colina em forma de seios" ou mesmo "entre morros (como seios)" que deu origem, sim, mas aos nomes de cidades como Itabapoana no Rio de Janeiro e Camapuã no Mato Grosso, nada parecido foneticamente a Muqui, sugerindo que se trata de uma suposição errônea dizer que Muqui significa "entre morros".

Na língua portuguesa existe outro vocábulo que leva a este entendimento. É a palavra "mamelão". Embora em desuso atualmente, ainda é muito usada entre os militares em seus relatórios. Significa "colina" ou "outeiro". Também é tida como "mamilão" que quer dizer "montículo arredondado". A raiz da palavra é "mamilo", que significa "bico do peito" ou "outeiro terminado em bico".

Assim, coincidência ou não, tanto na língua tupi guarani quanto na portuguesa existem palavras derivadas de "seios" para designar "colinas arredondadas" ou "entre morros". Enfim, são apenas conjecturas, analogias de historiador, sonhando em encontrar a verdadeira fonte histórica, baseando-se em todas as hipóteses para compreender a origem deste nome, que no início do século XIX escrevia-se com Y: Muquy, São João do Muquy até chegar a Muqui, como permanece até hoje.

No campo da colonização do território capixaba, a trajetória histórica remonta de 1535, com a chegada dos portugueses, período de estabelecimento do sistema de capitanias hereditárias, com a finalidade de ocupação político-territorial e gestão econômica das terras brasileiras pela Coroa Portuguesa até o início do séc. XVIII.

 

Os limites da capitania do Espírito Santo foram definidos pela carta-régia de 1534, redigida pelo Rei D. João III, ao seu fidalgo, capitão e governador Vasco Fernandes de Coutinho, sendo o Rio Mucuri o limite ao norte, na Serra do Caparaó, e o Rio Itabapoana ao sul do ES. As terras mineiras onde se encontra a Serra de Caparaó pertenciam inicialmente à capitania do ES. Vasco, donatário a quem coube a capitania, chegou em 1535 e fundou a primeira povoação no dia da Festa do Espírito Santo, o que deu origem ao nome.

 

Porém, a situação começou a se agravar motivada pelos frequentes ataques de índios, prejudicando os engenhos, os algodoais, paralisando o comércio direto entre Vitória, Portugal e Angola, o que levou a capitania à penúria.

 

Em se tratando do Espírito Santo, encontravam-se na faixa costeira e em parte dos vales os índios do grupo linguístico tupi-guarani, os tupiniquins os tupinambás, e pelos Vales do Rio Doce, os do grupo Jê, genericamente, os Botocudos ou Aymorés. A resistência e hostilidade destes grupos foram motivos de atraso no avanço da colonização e consequente sustentação econômica da Capitania.


Com a relativa decadência da cultura açucareira e o descobrimento de ouro no sertão da colônia, a Coroa Portuguesa, tendo o controle da Capitania por falta de governantes locais hábeis, estabeleceu ordens para que não fossem abertos caminhos e estradas pelo interior da Capitania em direção às Gerais. A província do Estado do Espírito Santo encontrava-se praticamente isolada por causa do bloqueio marítimo imposto pelo reinado de D. João VI.

 

Manter-se-ia assim o isolamento do Estado, a fim de que não servisse de passagem ao contrabando de pedras preciosas e ouro das gerais, ouro abundante em vários rios, como o Rio das Velhas e o Rio das Mortes. A preocupação da Coroa se daria pelo motivo de que os produtos escoados realizavam-se "sem pagamento de direitos" e, portanto, achou-se conveniente instalar "uma agência" para fiscalizar e cobrar os devidos impostos. Com isso, as terras capixabas mantiveram por mais tempo suas matas virgens intactas, totalmente preservadas, além de parecerem ótimas para a nova lavoura de café que despontava em algumas províncias.

 

Na metade do século XVIII a capitania passou a ser encarada apenas como "defesa militar" pelo reaparelhamento de muitas fortalezas e fortes, inicialmente em Vitória, com intuito de proteger a capitania. Também foram criados quartéis próximos ao Itapemirim e o litoral.

 

As expedições começavam a se deslocar matas adentro, procurando terras para ocupar, explorar e viver.

 

Ao longo dos tempos, houve uma real participação indígena na colonização do território capixaba, resultante da contribuição jesuítica na catequese dos silvícolas. A situação se agravou com a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal. O fulminante ataque dos Puris em 1771 fez os mineradores da região da Serra do Castelo a se refugiarem no baixo Itapemirim.

 

Em 1790, durante o governo do capitão-mor Inácio João Monjardim, a ligação marítima com o RJ e a BA revigorou a economia da capitania. Incentivou-se a cultura do linho e do cânhamo, além de exportar sacas e tecidos de algodão, madeira e os produtos tradicionais, como açúcar, milho e arroz, importavam sal, vinho, azeite, linhos e sedas. Sob administração de governantes capazes, estradas começaram a ser abertas, a população cresceu mediante os incentivos à colonização, ao comércio e à navegação entre capitais e a Europa.

 

Por essa dilatação do território pela costa, por volta do ano de 1620, formou-se Muribeca, grande fazenda jesuítica, montada na Planície de Muribeca, um aldeamento de índios próximo às primeiras cachoeiras do rio Itabapoana para catequização dos Puris e Botocudos. Os índios tupis eram poucos, vindos da Aldeia de Reriritiba (atual cidade de Anchieta/ES) para ocuparem o novo agrupamento, que sobreviveu precariamente por duzentos anos, chegando mesmo a sofrer alguns ataques dos Goitacases.

 

Existia uma capela pertencente à Missão de Muribeca, de onde saía todo o contrabando de ouro via Galeões Franceses que, sorrateiramente, ao cair da noite, ancoravam-se e partiam para o além-mar, como autênticos navios-fantasma. Os jesuítas mantiveram em segredo as Minas de Sant' Ana dos Castelos. Parece que existia em poder dos frades um mapa secreto, com a rota e o caminho para o ouro, vendido para alguém que tentou subir o Rio Doce logo depois das primeiras descobertas de ouro nas Gerais, mas que nada encontrou.

Foi na Muribeca que mais tarde José de Anchieta supostamente construíra uma igreja de madeira em homenagem a Nossa Senhora das Neves, pertencente à Missão de Muribeca, de onde saía sorrateiramente ao cair da noite todo o contrabando de ouro. Navios ancoravam e partiam para o além-mar como autênticos navios-fantasma. Os jesuítas mantiveram em segredo as Minas de Sant' Ana dos Castelos. Parece que existia em poder dos frades um mapa secreto, com a rota e o caminho para o ouro, vendido para alguém que tentou subir o Rio Doce logo depois das primeiras descobertas de ouro nas Gerais, mas que nada encontrou.
 
Foram instaladas residência, oficinas, enfermaria, horto, pomar, criadouro de peixe, casa de farinha e usina de açúcar. A propriedade chegou a ter 9 léguas e meia de frente por 8 léguas e meia de fundo e foi uma das maiores fazendas pecuárias do Brasil, assim transformada, pois inicialmente produzia cana-de-açúcar pouco desenvolvida no terreno arenoso, abrangendo o sul do Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro, até a região de Campos dos Goytacases, RJ.

A cultura cafeeira iniciou-se com o aproveitamento da estrutura deixada pelos engenhos de açúcar já existentes, posteriormente favorecendo a formação de novos núcleos populacionais, cujas atividades giravam em torno da produção cafeeira até ser embarcada nos vapores. O termo "capixaba" que na língua tupi quer dizer "terra boa para a lavoura" reforçou a origem do nome e definiu a vocação agrícola do Estado e consequentemente de Muqui da época.

Os aventureiros faziam uma longa caminhada ao redor de 100 km para chegar até Muqui por duas direções opostas. A primeira, de barco até Itapemirim, subindo o rio até onde fosse possível, depois a pé ou em lombo de burro, acompanhados por tropeiros. A segunda, de trem do Rio de Janeiro até Santo Eduardo, em Campos, depois subindo o leito do Rio Itabapoana e seus afluentes a pé, a partir do recém-fundado Porto de Limeira, do qual seguia a produção local via fluvial até a Igreja de Nossa Senhora das Neves - à qual o núcleo pertencia; até a Vila da Rainha e posteriormente até São Pedro do Itabapoana, ao qual Muqui fora mais tarde anexado.

A maior parte da bagagem destes desbravadores era composta de escravos, pois somente com eles poderiam ter uma chance de vencer as adversidades - enfrentando animais selvagens e possíveis ataques indígenas pelo caminho (principalmente após a expulsão dos jesuítas pelo Marques de Pombal, diminuindo a catequese dos índios locais), além de que com os escravos seria possível trabalhar a terra para o cultivo.

Cada dia viajado era chamado de "marcha". Os tropeiros enviavam parte da tropa responsável pela alimentação dos homens mais à frente para que armassem o alojamento e preparassem a comida para quando chegasse o resto do pessoal, já exaustos pela caminhada. Um dos pontos de concentração dos tropeiros muitos anos depois era numa vendinha na Fazenda Três Barras, na estrada do Entre Morros.

Os serviços prestados pelos tropeiros nestas idas e vindas vieram a fazer a conexão entre Muqui e os centros mais populosos e portos, onde compravam, vendiam ou trocavam mantimentos, que por sinal demonstrara que Muqui foi um bom ponto de passagem para o serviço. Muitos deles morriam pelo caminho, acometidos de febres, malária e ficavam caídos na selva como indigentes. Verdadeiros heróis que não se pode deixar de citar na história do desbravamento do país e, no nosso caso, da região do sul do Estado do Espírito Santo e especificamente de Muqui.

No campo da ocupação do território, o primeiro caboclo de quem se tem notícias na região foi João Corumbá, embora haja controvérsias, pois o autor Medina aponta o nome de Francisco José Lopes da Rocha, como primeiro posseiro que teria chegado em 1837 nos altos de Conceição do Muqui, na região de São Pedro de Itabapoana, às margens de um ribeirão afluente do Rio Muqui do Sul, fundando a Fazenda da Barra. As terras posseadas eram devolutas, tornando-se tradição cultural da época, mais tarde considerada o modo legítimo de aquisição de domínio, substituindo o sistema de sesmarias.

Porém, o primeiro documento temporal registrado pertenceu ao primeiro desbravador da região do Sumidouro, no alto da Serra dos Pirineus, José Pinheiro de Souza Werneck (1807–1891), procedente da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Paty do Alferes, Município de Paty do Alferes, Valença, RJ. Fluminense de nobre estirpe, de importante família portuguesa, abastados fazendeiros de café, filho de João Pinheiro de Souza, Braga, em Portugal, e sua esposa, Paula Pereira Monteiro, de Iguassu, RJ. Foi batizado em 10 de maio de 1807.

Peregrino José de Américo Pinheiro, nascido em 1811, em 30 de Novembro de 1866, recebeu o título de 1º Barão de Ipiabas e, em 17 de Junho de 1882, o de 1º Visconde ambos com grandeza de Ipiabas e seu irmão, Ignácio de Souza Vernek (Wernek assim era grafado antigamente, com K, até que retomou a forma original do nome alemão, Werneck, com CK), recebeu o título de Barão de Potengy. Os dois eram filhos do irmão de José Pinheiro, João Pinheiro de Souza e sua esposa, Izabel Maria da Visitação, portanto seus sobrinhos.

De família conhecida pelo caráter e formação moral e religiosa, José Pinheiro casou-se em 1830 com Ângela Eufrásia Goulart (falecida em novembro de 1838, por complicações no parto de sua última filha, Rosalina, deixando órfãs de mãe sete crianças: Sérgio, Maurícia, Flávia, Esmeraldina, Minervina, Tertuliano e Rosalina.

José Pinheiro atuava como Juiz de Paz em 1838 na cidade de Vassouras. Chegou a Tenente-Coronel, Comandante e Comendador da Ordem da Rosa do Rei de Portugal, foi oficial superior da Guarda Nacional, Vereador Municipal, Deputado Provincial (1864-1865) e membro da Sociedade Abolicionista do Estado do Espírito Santo. Com seu espírito de pioneiro, partiu à busca de terras férteis, pois o Vale do Paraíba encontrava-se desnudo e desolador, além de exaurido o ouro pelas Gerais e as crises escravagistas.

Casou-se em segundas núpcias com Tereza Peregrina de Jesus Maria (1825-1889), sua sobrinha, filha de João Pinheiro, portanto, irmã do 1º. Barão e 1º Visconde de Ipiabas. Sabe-se que um irmão (meio-irmão?) de Ignácio de Souza Vernek, Manuel de Azevedo Ramos, contraiu matrimônio com sua prima, filha de sua tia, Angela de Souza, e deu origem a outro ramo da família Werneck, que se mudou para as cidades de Leopoldina e Muriaé em Minas Gerais. Encontram-se duas datas para o casamento com Tereza, 1840 e 1842, contudo supõe-se que 1842 seja a data correta haja vista o nascimento de seu primeiro filho, Virgílio, em 1843.

Diz a literatura que Werneck encontrou João Corumbá instalado nas terras do Vale do Sumidouro em 1850, comprou a aberta, voltando em 1852, depois de a sede ou Casa Grande já terminada. Outra versão cita que chegou a Itapemirim em 1854 mudando-se com sua família em junho de 1859. Porém, em conversas recentes com descendentes de José Pinheiro pudemos ler documentos originais que nos remetem a outra verdade e revolucionam estas afirmações e também a data em que João Corumbá teria chegado às terras do Sumidouro, inclusive derrubando a controvérsia de os autores Garcia e Garcia (1997) apontando que o primeiro posseiro foi Manuel Joaquim Pereira em 1852.

Obtivemos a cópia da reprodução em Pública-Forma da posse de uma área registrada em 23 de junho de 1855, onde se constata outrossim que Werneck já acusava culturas e habitação no Sumidouro desde 1849 e que comprara terras de vários possuidores e não de apenas um como se imaginava (vide Galeria de Fotos "Sumidouro").

"José Pinheiro de Souza Werneck abaixo assinado é senhor e possuidor de uma data de terras citas nesta freguesia de Nossa Senhora do Amparo do Itapemirim acima da primeira furquilha do Rio Muqui, principiando no sumidor pequeno, todas as águas vertentes ao mesmo sumidor, as quais houve por compras feitas a diversos possuidores, partindo pela testada com a viúva e herdeiros de Vicente Ferreira Pereira da Silva, Felipe Leal da Conceição, Antônio José Leal, João Gomes Leal e sua mãe e pelo lado de leste pelos altos das montanhas que dividem com Guilherme Dumban e outros possuidores, por outro lado e fundos com altos das serras águas vertentes e nascentes do mesmo rio, cujo terreno ainda não se acha medido por falta de agrimensor, porém é calculado em três sesmarias de meia-légua (cada meia-légua = 1.500 braças ou 3.300 m) mais ou menos, com cultura e habitação do possuidor desde o ano de 1849. Villa de Itapemirim, 23 de Junho de 1855".

Obtivemos também cópia de outro documento, igualmente de junho de 1855, onde se pode constatar que Pedro Dias do Prado (um dos primeiros desbravadores de Cachoeiro de Itapemirim) vendeu a José Pinheiro por 300$000 (trezentos mil réis) uma sorte de terras de culturas, sitas no braço direito da terceira furquilha do Rio Muqui, terras vertentes e cachoeira alta na Bacia do Sumidouro, que Pedro também habitava e cultivava desde 1849, confrontando com as que um dia foram de Henrique Alemão, por certo a atual região da Fazenda "Três Tombos", local da única cachoeira alta que se conhece no Sumidouro.

Conclui-se que para Werneck e Pedro serem possuidores de plantações e moradia formadas em 1849 João Corumbá e Henrique Alemão (ou outros posseiros) já estavam ocupando a região antes disso. Se Werneck comprou suas terras diretamente de João Corumbá e foi o primeiro desbravador como diz a literatura, esta escritura pode não se referir à primeira aquisição de Werneck, haja vista tantos possuidores e confrontantes, ampliando certamente para menos do que 1850 a data de sua vinda atrás das primeiras terras.

Por estas terras que teria adquirido de João Corumbá, situadas em águas e vertentes do vale, Werneck pagou a CISA no valor de 2:800$000 (dois contos e 800 mil réis) pelos direitos de posse, na "aberta" anteriormente permitida na região do Sumidouro, registrando-a em Vitória, logo providenciando a limpeza da mata onde instalaria a bela sede.

Por outro lado, se esta posse com cultura e habitação em 1849 referir-se à sede da fazenda e uma muda de café necessita em torno de 3 a 4 anos para considerar-se uma cultura, estaríamos mais uma vez reduzindo a época para 1845 ou 1846.

Entre idas e vindas, entre limpeza da mata, projeto e viabilização das obras da fazenda (deslocando pedras e materiais de locais distantes), entre arar e semear, ter tantos móveis esculpidos a canivete, pode-se vislumbrar a hipótese de que José Pinheiro veio para estas terras entre 1839 e suas segundas núpcias em 1842 (1840?) para que tudo estivesse pronto em 1849.

Eram necessários dois meses de viagem a cavalo, trazendo todo material em lombo de burro, além do transporte das 22 mil mudas de pé de café bourbon que Werneck levou do Deserto Feliz (região de Marapé) para plantio, pelas mesmas vias, percorrendo a distância de 32 km até o Sumidouro.

Voltando a Valença, pelos idos de 1838, a população de Vassouras crescia rapidamente com a expansão da lavoura do café, porém a população de escravos era bem superior à de pessoas livres, brancas ou não, provocando seguidas denúncias e fervilhantes boatos de revoltas, comuns em todo lugar onde havia muitos escravos.

Em novembro de 1838, mês da morte de Ângela Eufrásia, primeira esposa de José Pinheiro, o capataz da fazenda "Freguesia" matou o escravo africano Camilo Sapateiro a tiros quando este ia sem autorização para a fazenda "Maravilha". Nenhuma punição foi dada ao assassino e o clima de revolta se estabeleceu nas senzalas. Os revoltosos fugiram e se esconderam nas matas da fazenda "Santa Catarina", propriedade do capitão Carlos de Miranda Jordão, que no futuro também mudou-se para o Sumidouro.

Outro importante escravo, Manoel Congo, um negro forte e ferreiro habilidoso, de pouca fala e sorriso escasso, foi julgado e enforcado em 6 de setembro de 1839 em decorrência da revolta que liderou em novembro de 1838 junto a outros 80 escravos fugidos da Fazenda "Freguesia".

Como as informações veiculadas sobre o episódio eram bastante conflitantes, o Juiz de Paz da Freguesia de N. S. da Conceição do Paty do Alferes, o tenente-coronel José Pinheiro de Souza Werneck, que havia recebido a denúncia das atrocidades contra os escravos, endereçou uma carta escrita com a versão esclarecedora do acontecido ao Coronel Chefe da legião da Guarda Nacional, Francisco de Lacerda Werneck, dois dias após o enforcamento de Manoel Congo, carta esta que consta do Arquivo Nacional, confirmando sua presença em Valença ainda em setembro de 1839.

Com isso seus descendentes supõem que José Pinheiro veio pela primeira vez para o sul do Espírito Santo e encontrou João Corumbá após este levante, época em que já se encontrava viúvo e desolado com a situação local. Werneck talvez tenha saído do Estado do Rio de Janeiro à busca de novos projetos de vida, acometido de tantos infortúnios pessoais e das más previsões na economia do Rio de Janeiro.

Fazendo-se uma análise cronológica, após o casamento com Tereza em 1840 ou 1842, nasceu o varão, Virgílio, em 1843. Tereza ficou grávida de Guilhermina em 1845, nascida em fevereiro de 1846. Tereza deu à luz a Viriato em outubro de 1848, a Luiz em 1849, a Maria em 1851, a Octávio José em abril de 1853, a Julieta em novembro de 1861 e a Euclides em maio de 1868.

Quando a primeira esposa de Werneck faleceu, o filho mais velho deste casamento, Sérgio, tinha 7 anos. Quando o último filho de José e Tereza, Euclides, nasceu em 1868, o seu irmão mais velho, Virgílio, tinha 25; Guilhermina, 22; Viriato, 20; Octávio, 15 e, Julieta, 7 anos e Sérgio já atingira 37 anos (nascido a 27 de setembro de 1831).

Ora, imaginando que Werneck pouparia a esposa, senhora de fino trato, não viajando com tantos filhos, nas parcas condições da época, atravessando vales em lombo de burro com a enorme mudança, resta-nos concluir que devem ter se mudado definitivamente alguns anos após o nascimento de Octávio em 1853. Inclusive notam-se dois espaços de 7 anos de diferença entre os últimos filhos, criando lacunas que sugerem a viabilização da complexa e aventureira transferência familiar com mais segurança e conforto. Além de esta suposição aproximar-se da compra de mais terras em 1855 e da necessidade de as crianças estarem mais crescidas para viajar em melhores condições.

Em 1855, Virgílio teria 12 anos; Guilhermina, 9; Viriato, 7; Luiz Pinheiro, 5; Maria Pinheiro, 3 e, Octávio, 2. Julieta e Euclides ainda não teriam nascido. Os 7 filhos do primeiro casamento teriam entre 24 e 17 anos. No livro "Minha Terra e Meu Município" (Cachoeiro do Itapemirim) de 1920, de Antonio Marins, pág. 157, diz que a família mudou-se definitivamente em 1859, modificando nossos cálculos das idades dos filhos do primeiro casamento para 28 e 21; Virgílio, 16; Guilhermina, 13; Viriato, 11; Luiz Pinheiro, 9; Maria Pinheiro, 7 e, Octávio, 6 anos, sugerindo que Julieta e Euclides nasceram na Fazenda Santa Tereza do Sumidouro. Sabe-se com certeza que Octávio José nasceu em Valença, haja vista certidão em posse dos descendentes a nós apresentada.

O que não se pode afirmar é quantos destes filhos seguiram com o restante da família. A não ser que Werneck tenha esperado a maioria deles crescer, estudar ou casar, tornando-se independentes para não terem que enfrentar o rude e desgastante desbravamento pelas matas. Tanto é que quando nasceu Euclides em 1868, Sérgio, o mais velho do primeiro casamento teria 37, Minervina, 33 e Rosalina, 30, com isso acentuando esta suposição. Porém são apenas conjecturas, até que se encontrem dados comprobatórios.

José Pinheiro mudou-se depois de a Casa Grande estar totalmente montada, acompanhado de sua segunda esposa, talvez dos filhos do primeiro e do segundo casamento e mais escravos e agregados, momento em que se instalou na fazenda "Santa Tereza do Sumidouro" nome que deu em homenagem a sua corajosa companheira. Isso certamente demandou muito tempo e logística diante das dificuldades da época.
Foram construídos salões de música, salão de bilhar, sala de fumar, vários dormitórios e salas de estar com todo mobiliário entalhado em jacarandá maciço retirado de suas próprias terras, objetos de intensa visitação em razão da beleza de suas linhas.

Os móveis entalhados da Fazenda "Santa Tereza" são atribuídos a um escravo de nome João Marceneiro do Sumidouro, cujos trabalhos esculpidos a canivete, de rara beleza, foram expostos numa exposição do segundo reinado anos depois. Aqui se confirma que do negro não só se usufruiu o esforço braçal. Muitos deles registraram grandes trabalhos na carpintaria e marcenaria.

Por muito tempo uma imagem de Santa Tereza, padroeira da Fazenda, entalhada em cedro com o manto pintado a ouro, obra de rara beleza e primor, foi mantida por Werneck em um importante nicho da sua sede. José Pinheiro era conhecido como grande fazendeiro de café. Sua vasta Casa Grande celebrizou-se por festas que duravam 15 dias.

Sabe-se também que Werneck só trouxe a mudança em definitivo concorrendo para a vinda de Antônio e Manoel Cândido dos Santos, para quem também mandou fazer a morada, transferindo-lhes os direitos de que se originaram respectivamente as Fazendas "Providência" e "Alpes", no Vale do Sumidouro, onde vários sítios foram se desenvolvendo a ponto de tornarem-se fazendas, habitadas por famílias a maioria procedente de Paty do Alferes, Valença, que forneceu a velha cepa de pioneiros do desbravamento destas terras.

Também conforme escritura original oferecida pelos descendentes de Werneck, vimos que José Pinheiro, na Fazenda da Safra no dia 23 de setembro de 1849 comprou uma sorte de terras no Ribeirão do Muqui, de Joaquim Custódio de Figueiredo por Rs 120$000 (cento e vinte mil réis) que parte pelo lado de baixo com terreno do Tenente Coronel José Pinheiro de Souza Werneck e pelo de cima com quem de direito pertencer, compreendendo os córregos que neste espaço deságua, todas as vertentes para o dito ribeirão e córregos.

Por conta desta compra, pagou em 16 de dezembro de 1854 à Coletoria das Rendas Gerais de Valença, RJ, a Siza por bens de raiz no valor de Rs 7$200 no ano financeiro de 1853 a 1854 correspondentes a Rs 120$000 (cento e vinte mil réis) pela compra feita a Joaquim Custódio de Figueiredo. Isso aumenta a suspeita de que Werneck já possuía outras posses na região, sendo ele mesmo seu confrontante e o local denominado Fazenda da Safra, quando as outras terras ele possuía com cultura e habitação desde 1849.

Poderíamos afirmar, portanto, que a ocupação do município de Muqui se deu por posseiros solitários como João Corumbá e Henrique Alemão pouco antes de 1840, sendo que Werneck talvez tenha ido à busca de terras após o término do levante escravagista em Paty do Alferes, fixando seu ponto de partida nas terras do Sumidouro bem antes do que se imaginava ou mesmo na melhor das hipóteses em 1849 conforme a escritura acima, providenciando as instalações ao longo de alguns anos e se mudado alguns anos após o nascimento de Octávio José em 1853.

De tribos indígenas há apenas a tradição de que existiram e ignora-se a época do seu desaparecimento. O elemento negro foi de alta valia no desbravamento do território. Foi o seu braço que criou a abastança desfrutada pelas fazendas. As culturas de café, cana de açúcar, algodão, cereais, criação de aves domésticas, suínos, bovinos, ovinos, caprinos e cavalares e muares tiveram incremento neste tempo. Ainda há vestígios de trabalhos de cantarias, carpintarias e marcenarias dos escravos conhecedores de tais ofícios.
A Bacia do Sumidouro é assim chamada em razão de o rio de mesmo nome cortar a região, desaparecendo a certa altura do seu curso por entre as pedras, surgindo bem adiante, entre o Vale do Sumidouro e o sopé da Serra dos Pirineus. Hoje, concentradas em uma área de propriedade da Família Lima, especificamente nos fundos da sede da fazenda de João Freitas Lima, adquirida de Francisco Abreu (mais tarde delegado da região), encontramos no "Sumidouro" ruínas em pedras trazidas de longe dali pelos escravos de alicerces e escadaria de uma antiga cocheira e/ou estalagem, de fundações e paredes da capela, bicas e banquetas (para desviar as águas das fontes e servir a sede), um galo de ferro sinalizador, hoje perene no alto de um poste, um ferro de passar a brasa com marca estrangeira impressa, garrafa de cerâmica de bebida também estrangeira, moringa e xícaras de louça (encontradas enterradas).

Contam os moradores da região que Francisco Abreu, casado com Rosa Viterbo de Souza, filha de José Werneck, parente de José Pinheiro, começou no "Sumidouro" com uma vendinha depois de ter recebido de presente cinco alqueires de Juquinha (José) Pereira da Silva, cuja viúva, Cocota, acabou na miséria de tantos maus negócios oferecidos pelos falsos amigos. Maria (Cocota) da Silva Torres nasceu em 1893 em Itamarati, MG, e faleceu em 1969. Casou-se com José Pereira da Silva (Juquinha) e moraram no "Sumidouro" vizinho ao sítio "Massador", do sogro, Antônio Romualdo. José (Juquinha) Pereira da Silva era primo de Carlota e casou-se com sua filha, Maria (Cocota). Ernestina Pinheiro (filha de Agenor Pinheiro) casou-se com José (Juca) da Silva Torres, os relatos estão todos entrelaçados.

Em novembro de 1915, Rosalina Pinheiro de Souza Werneck anunciou em o "Muquyense" Ed. No. 150 a venda de sua Fazenda "Progresso" de 75 alqueires, com matas virgens e lavouras, pastagens e capoeiras, casa de moradia e 4 casas de colonos e parte de Engenhos de Serra no lugar denominado "Sumidouro". Durante o ano inteiro de 1917 Rosalina anunciou a venda de mais terras e uma casa em ruínas no "Sumidouro", que herdara de seu pai, José Pinheiro de Souza Werneck.

Temos também em nosso poder a escritura original de venda de terras de Rosalina para José Pereira da Silva no lugar denominado "Sumidouro" com uma casa em ruínas por 400$000 (quatrocentos mil réis) em maio de 1923, reiterando que as ruínas que ainda hoje se encontram na propriedade de João Freitas Lima podem ser as mesmas, já que José Pereira passou-as a Francisco de Abreu.

Além disso, o instrumento de posse de 1855 acusa que Werneck comprara a área de diversos possuidores, partindo da testada com a viúva e herdeiros de Vicente Ferreira Pereira da Silva, considerando-se o mesmo sobrenome, poderíamos concluir que Juquinha (José) Pereira da Silva vem a ser descendente de Vicente, denotando que o quinhão de terra onde hoje estão as ruínas certamente foi onde tudo começou.

Sabe-se também que nas terras de Antonio Freitas Lima, mais para o alto no "Sumidouro", foram encontradas fundações de uma senzala e, perto da segunda cancela, uma antiquíssima vendinha, levando-nos a crer mais uma vez que ali fora o foco central da tão afamada Fazenda "Santa Tereza do Sumidouro".
São estes os únicos vestígios de construções da região, comprovando que ali se estabeleceu o primeiro núcleo da aristocracia rural, seguido pelas famílias Antonio Gomes Leal, Antonio Cândido dos Santos, Mariano José Coelho, Antonio de Azevedo Ramos, Miranda Jordão, e outras, migradas para testemunhar o progresso que ia começar no vale, foco de atração para os que desejavam ganhar a vida e fazer fortuna nas férteis terras capixabas.

Em estudos dos descendentes dos Werneck, encontram-se relatos que confirmam que Tereza morreu na Fazenda "Fortaleza", de propriedade de Otávio de Souza Werneck, porém foi enterrada no Cemitério do Sumidouro nas terras da sua própria fazenda. Ali também foram sepultados seus filhos, Euclides e Viriato, como também Flávio e Rosalina, filhos do primeiro casamento com Ângela Goulart. Agenor de Souza Pinheiro, nascido em 1859 e falecido em 1935, filho de Rosalina, neto de Werneck, também jaz ali, cuja foto da tumba pode-se consultar na Galeria de Fotos. José Pinheiro morreu em 1891, dois anos depois de Tereza.

Inicialmente o povoado era chamado de "Vendinha", depois de "Povoação Werneck", logo a seguir de "São Felipe" que passou a "Marapé" e hoje Atílio Vivácqua. Em 1853 várias fazendas começaram a ser instaladas até o Distrito de São Gabriel de Muquy, hoje Camará, e aos poucos foi se formando uma pequena aldeia à beira do Ribeirão Muquy, pobre, sem recursos, sendo que os moradores habitavam choças e tinham o hábito de se levantar quando o sol já ia alto, deitando-se nas pedras aquecidas para tomar sol como fazem os lagartos.

Posto que não sejam conhecidas outras lendas ou tradições sobre a origem do município, sabe-se por isso que Francisco Gonçalves da Costa denominou-o de Arraial dos Lagartos, embora coincidentemente se observe ainda hoje um tipo de lagartinho coabitando livremente pela cidade.

De 1856 a 1860 surgiram as Fazendas "São Francisco", fundada por Francisco Gonçalves da Costa; a "Entre Morros", fundada por João Pedro Vieira Machado e sua mulher, Leonarda Josefa da Fraga, cujo terreno foi adquirido em 1856 de João Gonçalves Serpa e sua mulher, Ana Maria do Coração de Jesus, oriundos de Ilhéus, mas chegados de Valença em 1854; a "Boa Esperança", fundada por João Jacintho da Silva, português de nascimento (vide mapa original de 1863 na Galeria de fotos); a "São Gabriel"; a "Santa Rosa"; a "São Luiz"; a "Santa Rita", formada por Gabriel Ferreira da Silva; a "Primavera", por Azarias Ferreira de Paiva; a "São João", por Benício de Souza Machado e a Fazenda "Verdade", aberta por Antonio de Azevedo Ramos.

Esta última, principalmente, continha aldeias de índios Puris. Sabe-se de 60 aldeias na região. Estes índios não gostavam de trabalhar, escondiam-se na floresta ao perceber que seriam recrutados, só aderiam quando pegos de surpresa. Adoravam ser presenteados, escapando depois, porém deixavam os desbravadores certos de que não seriam atacados. Gostavam muito de cachaça e eram ótimos arqueiros, controlados por um índio de nome Candinho dos Puris. Os Puris sumiram da área sem deixar rastros não existindo sinais de quando partiram.

Em 1876 o mineiro Benedicto Fidelis foi o primeiro morador fixo do povoado vindo de Itaperuna, RJ, nascido no Município de Formiga, a oeste de Minas Gerais. Consta que de 1877 a 1887 João Jacintho da Silva permitiu o funcionamento do primeiro comércio, na realidade a primeira casa de trocas comerciais, explorada pelo espanhol de nome Florêncio Caballero Ribas, no bairro da Boa Esperança, seguido depois por Joaquim José Pereira Bastos, Francisco Rizzo e Francisco Siano, que fundou a "Casa Vermelha" em 1891 à avenida principal.

Diz o historiador Gérson Moraes França, que encontrou no Jornal "O Constitucional", órgão conservador, de 9 de Julho de 1888, editado em Cachoeiro de Itapemirim, ao qual também tive acesso mais adiante, notícias que revelaram que Muqui nos seus primórdios era uma vila muito violenta, verdadeira "terra sem lei", a ponto de ser necessária a criação de um posto policial. Inclusive no estabelecimento de Ribas, cujo bar estava sempre cheio, já havia acontecido um ou dois crimes agravados pelo consumo exagerado de álcool. Até que no dia 21 de maio de 1888, segunda-feira à noite, ao redor das 19h, Ribas, ao conversar à porta do seu estabelecimento com seu amigo e fazendeiro Nonimato Ferreira da Silva, então dono da Fazenda Floresta, que sempre o procurava para longas conversas, de repente sofreu um espancamento junto a golpes de "instrumentos contundentes" por uns estranhos que rodeavam o local, porém não o feriram gravemente. Ele gritou pelos seus empregados e alguns tiros foram disparados, atingindo um dos empregados de Ribas, João Alves dos Reis, de raspão.

Os fazendeiros da região, em especial Nonimato, sabiam que Ribas, pessoa mal-quista no arraial, vendia café roubado das fazendas próximas, que comprava baratinho de escravos ladrões, sempre tentando pechinchar ainda mais, criando discórdia com quem "negociava" o café. Nonimato mesmo aparentando amigo de Ribas foi o primeiro a ser acusado no inquérito aberto por Ribas, sob o veredito de várias testemunhas, mas ninguém foi preso pela agressão. O Caso Ribas, como foi chamado, diz que Nonimato, homem de muitas posses, contratou bons advogados, amigos de suas relações sociais, que acabaram levando o caso a arquivo, sem punir os responsáveis. Anos depois, diz Gérson, foi confirmada a real culpa do fazendeiro. Ele inclusive foi visto anos mais tarde tomando café em Cachoeiro de Itapemirim com tais pessoas que o ajudaram. Quem atendeu Ribas foi um médico afrodescendente, filho de ex-escravos de São Pedro de Itabapoana, Dr. José Coelho dos Santos.

Em 1887, João Pedro Vieira Machado doou um terreno para que se erguesse a primeira capelinha numa pequena colina, em intenção a São João Batista, e João e Manoel Jacintho da Silva da Fazenda "Boa Esperança" e João Pedro Vieira Machado da Fazenda "Entre Morros" doaram a área ao redor da capela que passou a ser o Patrimônio da Igreja.

Em 1888 instalou-se a Agência Postal , marco inicial do vilarejo. Em 1890 São João do Muquy foi anexado ao Município de São Pedro de Itabapoana. Em 1893 José Cúrcio instalou a primeira sapataria. Em 1902, Dr. João Longo foi o primeiro dentista; Júlio Pereira Leite, o primeiro médico; Braz & Felício Lethieri, os primeiros latoeiros e caldeireiros; Altino Dias Rosa, o primeiro farmacêutico; Leão Balbi, o alfaiate; José Ramos e Eudóxio Caiado, os hospedeiros; o primeiro mestre particular, Amenofis de Assis, e outros.

Peçanha Póvoa, inspetor escolar, vendo tanta riqueza ao passar por aquelas terras, visitando seu amigo, Julião Barreto Faria, um respeitado fazendeiro das redondezas, recriminou-o por "residir tão longe da civilidade" (conforme o historiador Passini) e, abatido com a situação, decidiu-se por levar pessoalmente ao governador um pedido para que a estrada de ferro adentrasse por aquelas terras a partir de Campos de Goytacases.

Julião e outros fazendeiros vizinhos organizaram um manifesto, por escrito, para fortalecer o pedido ao governador da província e também envidaram todos os esforços para informar à Diretoria da Ferrovia que a decisão seria de mútuo interesse, pois escoaria toda a produção de café da região.

Depois de estudarem as possibilidades de implantar o projeto, estabeleceu-se que atender ao pedido da população local seria realmente de grande vantagem para os cofres, convencidos de que recuperariam muito em breve todo o investimento, garantindo lucro certo para a Ferrovia.

Os primeiros trilhos da Leopoldina Railway começaram a despontar em Muqui em agosto de 1901 vindo de João Pessoa (Mimoso do Sul, estação que traz a data de 1898). A primeira denominação do vilarejo manteve-se até 1902, quando passou a ser conhecido por Muquy, na ocasião da inauguração da Estação, que trazia o mesmo nome, a terceira parada entre Rio e Vitória, km 50.

A estrada de ferro foi de fundamental importância para o desenvolvimento econômico da região, principalmente pelo plantio do café e pela chegada de imigrantes de várias nacionalidades, como sírio-libaneses, italianos e espanhóis, além de logicamente portugueses.

Nesta mesma ocasião, ao redor de 1902, fez-se necessária a construção de uma capela maior, motivada pela constante chegada de moradores pelo novo acesso. A partir deste momento a cidade ganha novo fôlego, alimentada tanto pela linha férrea, como pelos imigrantes e novos moradores que viam em Muqui a esperança de uma vida melhor. Os grandes proprietários estruturavam grandes construções para impor sua autonomia e poder sobre a região, com melhores e modernos materiais que eram escoados pela ferrovia.

Rapidamente os grandes homens buscaram melhorar a cidade, construindo a escola municipal, consertando estradas, edificando pontes, fornecendo iluminação pública e valas para escoar água estagnada, dando definitivamente um ar de cidade para a promissora praça comercial.

Os primeiros comerciantes estabelecidos no antigo Arraial dos Lagartos foram: Casa Vermelha de Siano & Filhos (compradores de café; ferragens, mantimentos, gêneros, guarda-chuvas, louças, arados Oliver, etc. Vendas por retalho e por atacado); Jorge Dibo "O Barateiro" (mantimentos, molhados, roupas, armarinhos, artigos da moda); Zehi & Irmãos (compradores de café e madeiras); Cheibub & Com. (sortimento de fazendas finas e grossas, armarinhos, ferragens, chapéus, calçados York e outros, mantimentos, molhados e gêneros do país).

José Cúrcio & Filhos (fazendas, armarinhos, calçados, ferragens, chapéus de sol e de cabeça, mantimentos, molhados e Padaria - Compram-se aves e ovos em qualquer quantidade); Zehi & Irmãos; Pharmacia Ideal de Rizzo & Brant (Elixir de Nogueira, Lombricol, Ankylol, Elixir de Nhame, Licor de Tayuyá, Xarope de Grindella, sabão Aristolino); Pharmacia Gomes de Gomes & Comp., Pedro Pavani "Pirotécnico" (fogos noturnos e diurnos (japoneses) e balões venezianos e dinamite e pólvora bombarda para obras); Casa Ideal de Siro Tedoldi (bombons, bebidas finas, biscoitos e conservas), mais tarde Cine e Bar Ideal.

A bombarda era um primitivo disparador de projéteis pesados que surgiu no século XIV (logo após a descoberta da pólvora pelos europeus), com bico pouco comprido, e que não passava de uma chapa de aço forjada em forma de tubo e reforçada com cintas metálicas. Pode-se dizer que a bombarda foi o elo entre o canhão e o morteiro que futuramente deu origem a estes dois. Utilizava projéteis de pedra ou metal, no entanto para grandes calibres utilizavam-se os de pedra, pois eram mais leves e mais baratos. A bombarda mais tarde deu origem aos morteiros, quando ganhou maior força e passou a atirar explosivos usados em obras civis para estourar pedras na abertura de estradas, etc.

Na Padaria Bom Destino de José Cúrcio & Filhos vendiam-se fazendas, armarinhos, chapéus de sol e de cabeça, louças, vidros, talhos e moringas, arreios e objetos de montaria, mantimentos, molhados, relógios Ômega e Roskopf, correntes, homeopatia em tintura e globos, bicarbonato de soda, sal amargo e de Glauber, mercúrio, creolina, óleo de rícino e amêndoas, sementes novas de hortaliças e a Caixa Registradora oferecia bonificação de 3% sobre as compras em dinheiro (padaria que não vendia pão).

Curiosidade: A Pernambucana "Mãe da Pobreza" (chitas, cretons, oxfords, riscados, fantasias, 1914 em Cachoeiro – atual Casas Pernambucanas, fundada em 1908 pelo sueco Herman Theodor Lundgren).

Em 1905, Alzira Ramos foi nomeada a primeira professora pública e o primeiro mestre-escola público, Antônio Pedrosa. O Exmo. Presidente do Estado, Governador Marcondes de Souza em 1913 criou por decreto 3 escolas públicas de 5a. Entrância, uma na Fazenda "Bom Destino", uma escola mista no "Formoso" com as Profas. Elvira Vianna e Noêmia Trentin e uma no "Sumidouro", cujo mestre foi João Zeferino da Costa. Na zona do Arraial o primeiro professor foi Francisco Rubião, na Fazenda "Entre Morros".

Voltando ao vilarejo lá pelos idos de 1901, antes mesmo de que os trilhos chegados de João Pessoa (atual Mimoso do Sul) cruzassem toda a cidade, constata-se através de fotos (e mais tarde em anúncios no jornal "Muquyense") que existia ao lado da Estação o conceituado Hotel dos Viajantes, onde desde os primórdios habitavam como pensionistas um médico e um dentista, que ali atendiam seus pacientes, como o Dr. Barbosa dos Santos e José Cabral respectivamente.

Morava no Quarto 1 um afinador de pianos. Neste hotel podia encontrar-se um bom prato para jantar, bons aposentos e preços limitados. Sabe-se que forneciam serviço de bufê para os eventos sociais da cidade, além de hospedar políticos influentes. Em 1917 ali também moraram e atenderam Dr. Barbosa dos Santos e Dr. Djalma Poty Formel, renomados médicos, antes que se estabelecessem em suas residências.

Esta posse de No. 80 inicialmente de José Ramos e Eudóxio Caiado, a partir de 1909 foi de João Gonçalves Serpa (também conhecido como Hotel Serpa) repassada em 1913 a Francisco Mamari, juntamente à posse No. 79 de Silvino Luiz da Fraga em 1921 (haja vista escrituração da Igreja). O Hotel dos Viajantes foi adquirido em novembro de 1920 por Lino Batista da Cunha e, em seguida, passado a arrendamento para a Leopoldina Railway, empresa já em decadência. O Hotel foi colocado à venda em 1921, junto a outros imóveis de Lino.

A construção foi revendida aos novos donos do Hotel Glória, ali instalado, porém demolido em 1935, quando da primeira gestão do Pref. Avides Fraga, para em 1939 dar lugar ao prédio da atual Prefeitura, adquirido de Mamari já em 1932, aforado o terreno estava por ele desde 1926. Soube-se que nos idos da decadência do hotel, já em meados de 1924, passaram a acontecer furtos aos hóspedes, da mesma maneira que um terrível incidente durante o qual o hóspede, José Ferreira Dias, foi esfaqueado pelo cozinheiro, Orozimbo Borges, com dois golpes sangrentos, terminando por enterrar definitivamente a fama do tradicional Hotel dos Viajantes.

Havia também em frente à Estação, na posse No. 55 de João Gonçalves Serpa com 672 m2, aforada em 1909, à Av. Vieira Machado, o Hotel Muquy, fundado em 1914, ao lado do atual Bar Vitória (segundo prédio do Governo Municipal), construção de Evaristo da Fonseca Castro (também conhecido como Hotel Evaristo) que em fins de 1913 passou a ser de Abdenago França (com problemas de aforamento devido a João Gonçalves Serpa) até 1916, de José Cabral e Alexandre Martins em 1917 e de Zamit França em 1918. A foto do Hotel Muquy está na Galeria de Fotos bem ao lado do prédio da Câmara Municipal.

Existem também citações sobre o Hotel Central, gerenciado em 1917 pelo Sr. Plínio de Andrade e em 1923 por João Teixeira Quintão, que em 1930 depois de uma grande reforma passou a abrigar a Pensão Surrage de propriedade de Fernando Surrage, passando a João Vieira da Fraga em 1933. Muitos moradores antigos ainda se lembram do enorme casarão onde morava um senhor de idade solitário que ali viveu até o fim dos seus dias, antes que o antigo prédio fosse demolido. Em 1952 esta posse foi dividida em 300 m para Jorge Nunes Acha, parte da atual área do Hotel Santa Terezinha e 267 m para João Batista Bueno de Castro, onde hoje funciona a Casa Bueno.

Estes hotéis também serviam refeições para eventos sociais, como por ex. o banquete oferecido ao Governador Marcondes de Souza, em agosto de 1913, em mesa em forma de L, cujo menu foi o seguinte:Pratos pequenos – Escaberbes, azeitonas recheadas, pão e manteiga. Sopas – Creme à la Reine. Entrada – Frango com cogumelos. Peixes – Robalo com molho à holandesa. Assados – Peru recheado com presunto de York. Legumes – arpargos na manteiga. Sobremesas – Pudins, frutas, queijos. Vinhos – Viúva Gomes, Sauternes, Pomares, Clicque, Porto, chá, café, licores.

Voltando ao Livro de Escrituração da Paróquia de 1909, podemos observar a importante transferência de posses a moradores na área do Patrimônio da Igreja. Em 1918 a metragem total do Patrimônio de São João Batista de Muqui marcava 50.830 metros quadrados (constam até 1918 dois pagamentos para os profissionais da época pela medição e estabelecimento dos marcos). Como se sabe, esta área foi doada por dois ricos fazendeiros, João Jacintho e João Pedro Vieira Machado na ocasião da construção da primeira Capela e então aforada em posses à população.

Em 1909 o procurador da Igreja, o vigário, Padre Henrique Sissing, com ajuda do escriturário, o "fabriqueiro" Matheus Paiva, criou o 1º. Livro-caixa da Capela onde acompanhavam nome a nome, folha por folha, ano a ano, cada pagamento até quitação total do contrato, quando repassavam a posse aos adquirentes. Tratava-se da cobrança de aforamentos e laudêmios, praticados até os dias de hoje em algumas áreas da cidade.

Matheus Paiva era o escriturário do livro, isto é, o secretário da "Fábrica da Capela", um "fabriqueiro", como era chamada a comissão nomeada pelo Bispo Don Fernando de Souza Monteiro, por ato de posse de maio de 1910, presidida pelo Padre José Bernardino dos Santos e Silva (logo depois de Henrique Sissing e definitivamente em 1924), a fim de que fossem captados aforamentos em atraso e/ou doações para a reforma e construção do segundo templo, como também para as despesas do culto divino.

Ali pode se constatar a existência das ruas que em 1909 já cortavam Muqui: Rua Vieira Machado, Rua dos Operários, Travessa dos Operários, Rua João Jacintho, Rua São João, Rua Primavera, Rua Bernardino Monteiro e Rua Cel. Luiz Carlos. Pouco mais tarde, a Rua Dr. Poty Formel, Rua Luiz Affonso, Rua Coronel Marcondes, Travessa Capitão Marcondes e Rua Jerônimo Monteiro.

Encontram-se ali também os nomes dos primeiros moradores: Família Serpa, Paiva, Acha, Mamari, Fraga, Zehi, Cúrcio, Rizzo, Oazem, Amado, Chaibub, Siano, Affonso, Alves de Macedo, Lethieri, Giudice, França, Haddad, Vieira Machado e outras. Constata-se também a existência do antigo Açougue Municipal à Rua dos Operários e a Velha Cadeia, à Rua Coronel Marcondes (ali até 1926), como o repasse para a Câmara Municipal, à Av. Vieira Machado em 1915 da posse No. 5 de 2243 m2 pertencente a Carlos Oazen desde 1909.

Em 1910, houve o desenvolvimento da primeira Igreja Presbiteriana. Pela Lei No. 826 de 22 de outubro de 1912 criou-se o Município de São João de Muquy , passando a distrito, desmembrando-se de Cachoeiro de Itapemirim. Foram eleitos o primeiro Presidente da Câmara, Geraldo Viana, e os primeiros Vereadores. Foi empossado o primeiro coletor de rendas, Walter Macedo, quando também tomaram posse os juízes distritais. Em 1913, Da. Yolanda Macedo ocupou o cargo de Administrador dos Correios antes ocupado por Felipe Cúrcio e mais tarde por Philomeno Ribeiro e Eurídice de Souza Botelho.

Em 1912 foi construído o Cemitério Público com 1.936 m2 mesmo antes de ser distrito, com ajuda da Câmara Municipal de Cachoeiro de Itapemirim e dos morades de Muqui, sendo que em 1913 foi inaugurado um grande cruzeiro de madeira, preparado pelo carpinteiro Paulo José Ferreira, com os símbolos de todos os martírios, que mais tarde caiu sobre o túmulo de granito de Francisco e Rosário Rizzo, causando prejuízo à família.

Em 1913 funcionou o primeiro Tribunal Popular, o Tribunal do Júri, cuja primeira sessão foi presidida por José Antonio Lopes Ribeiro. Interessante notar que já em agosto de 1913 circulavam pelo comércio local notas falsas de dez mil réis ("Muquyense" Ed. No. 31), sendo que em maio de 1917 Mário Borgatti e Alfredo Campanelli foram acusados pelo crime de emissão de moedas e notas falsas. A apreensão foi de Rs 18:140$000 em notas de 10 e 50 e em moedas de Rs 2$000, sendo ambos presos no Rio de Janeiro, figuras conhecidas em Muqui. A impunidade deu um jeito de deixá-los presos apenas por um ano e alguns meses ("Muquyense" Ed. No. 225), pois não se conseguiu incriminá-los por mais tempo.

Em abril de 1913 abriu o primeiro salão de beleza "Feliciano" e em maio chegou a "Troupe Ceballos" para um espetáculo circence. Em 1913 houve licitação para fornecimento de 30 postes de madeira de lei para iluminação elétrica, quando Alfredo de Carvalho foi o escolhido para a empreitada, sendo que até então a iluminação pública se fazia através de lampiões de querosene, ou carbureto, acesos por Aramis, que em 1924 ordenou-se padre. Este sistema de iluminação pública a lampiões de querosene era de tecnologia belga e foi inaugurado inicialmente em Cachoeiro de Itapemirim em 1887.

Fundou-se o jornal "Muquyense" em 1913, primeiro órgão republicano, semanal, sob a direção de Geraldo Viana.

"O município precisou de 16 ou 18 anos para sair do estado de um triste vale coberto por espessas goiabeiras sombreando a péssima e lamacenta estrada de rodagem que cortava o Patrimônio em direção a Cachoeiro de Itapemirim. Era então pelos idos de 1890 um insignificante arraial que contava apenas com 4 casas. O avançamento da linha férrea com suas leves curvas cortou finalmente a florescente e futurosa vila. O progressivo desenvolvimento em diversas formas ocorreu ao redor do prédio da Estação fundada em 1902, onde vários prédios foram edificados e ocupados por negociantes, hoteleiros, farmacêutico, etc.

Elevou-se então a Distrito graças à sua prosperidade e continuação da vida comercial sempre crescente, rendendo aos cofres públicos nada menos do que cerca de Rs 10:000$000 (dez contos de réis). Marcondes de Souza, sendo o Governador do Estado na época e tendo um carinho especial por Muqui, buscou dirigir mais melhoramentos para a vila, como escola municipal, iluminação pública, consertos na estrada do "Sabiá", do "Rio Claro", pontes sobre o Rio Muquy e o Córrego Boa Esperança. Saneou todo o arraial, estabelecendo valas para escoamentos das águas estagnadas, obteve bom prédio para o xadrez com destacamento policial de Sr. Luiz da Silva de Oliveira, construiu a estrada de rodagem para os terrenos das "Torres", levou melhoramentos para a estrada do Sumidouro, reconstruindo também a antiga estrada para Cachoeiro.

Tornou Muqui em uma boa praça comercial contando com 25 casas de 1a, 2a, 3a até 6a. ordem, apresentando também uma farmácia bem montada, médicos, dentistas, engenheiro, estabelecimentos de ensino público e tudo que traz conforto para uma população laboriosa. Havia três padarias, duas oficinas de sapateiro, sendo uma de 1a, uma ótima selaria, um Sindicato Agrícola, uma sociedade literária, uma banda e um campo de demonstração onde agricultores recebiam conhecimentos de lavoura, uma marcenaria e um excelente órgão de publicidade.

A música e a literatura encontravam regular aceitação, existindo sociedades que as mantinham. Em breve chegará a água canalizada e iluminação melhorada. Dadas as suas condições de salubridade, a sua invejável posição topográfica, abundância e qualidade das suas terras, terrenos de 1a. o arraial está predestinado a ser um dos mais ricos centros de atividade. Sua vegetação exuberante está em altas serras com altitude superior a 800 m em uma extensão de 36 km. Exporta grande quantidade de madeiras de superior qualidade, diversos cereais e aproximadamente 150 mil arrobas de café". Emilio Coelho da Rocha - Muquyense, 24 de janeiro de 1913.

Ao primeiro aniversário de o "Muquyense" em 1914 houve missa solene: "Por toda a Capela sentia-se o odor de incenso e mirra desprendendo-se do turíbulo espalhado ao centro do altar pelo mestre João que, de quando em quando, pedia brasas ao Joãozinho mineiro, que por sua vez fazia o serviço amavelmente vestido em sua opa verde. O maestro da Euterpe, Manoel Vicente, em orquestra afinadíssima, na hora da elevação do cálice ("offere") executou em seu violino tema de sentida composição, que comoveu a assistência até o "Dome non sum dignus". Feitas as orações finais de joelhos, rompeu a orquestra sob a impecável batuta do maestro, entre ribombos de dinamites e espoucar de rojões".

Marcondes de Souza subiu a larga escadaria e examinou as dependências do prédio. Foram descerradas as cortinas do quadro de Geraldo Viana. À noite houve grande baile no salão de honra do prédio. Lâmpadas acesas além das lâmpadas do belíssimo lustre ao centro, quando foram servidos licores, cerveja e por último chá com saborosos doces preparados pelo Hotel dos Viajantes. Foram então lidos os telegramas enviados pelo Exmo. Sr. Dr. José Monjardim e Sr. Dr. Washington Pessoa.

Em 1914 o Jardim Municipal continha uma farta vegetação, muitas plantas e árvores. Havia degraus para descer-se ao nível rebaixado onde existia um chafariz praticamente coberto pelas plantas que não se mantinham aparadas (vide Galeria de Fotos). Ali aconteciam cavalhadas e outros eventos, porém uma reforma aconteceu em 1923 primando pelo ajardinamento dos canteiros e por áreas cimentadas para caminhadas, onde as senhoras com seus longos vestidos passeavam com suas sombrinhas ao sol. O Jardim manteve-se rebaixado, adicionando-se uma fonte circular ao redor do chafariz existente onde quatro sapos de porcelana jorravam água ao centro. O jardim transformou-se em uma espécie de parque ajardinado.

Em 1914, criou-se o Distrito de São Gabriel de Muquy. A iluminação pública e a inauguração do novo prédio da Câmara aconteceram em 10 e 12 de março de 1914 respectivamente, ao som da Lyra Apolo de Campos dos Goitacazes, ao cortarem a fita verde-amarela à porta principal do novo edifício do Paço Municipal, sob o som do Hino Nacional e intensa queima de fogos.

Neste ano foram fundadas sete escolas públicas, mas apenas quatro providas: duas na vila, uma na Fazenda "São João" sob o comando da Profa. Alcina Alves Pinto e uma na "Chave Satyro", a escola pública masculina com o Prof. Pedro Brant Filho. Manoel Milagres Ferreira e Norbertina Norbin também foram professores. Houve matrículas para a primeira escola pública.

Foi quando ocorreu a primeira eleição para Prefeito, vencendo o candidato único, com 215 votos, Emílio Coelho da Rocha, dentista proeminente no vilarejo (que anunciava seus serviços no jornal "Muquyense" desde sua fundação em 1913) na época também delegado de polícia do vilarejo.

A cerimônia da abertura da água em setembro de 1914 foi coroada com oração e bênçãos e, em seguida, serviu-se champanhe num artístico caramanchão de folhagens entrelaçadas a bandeiras em cujo centro estava montada a mesa lindamente ornamentada com flores, parecendo uma enorme guirlanda, onde Marcondes de Souza e Geraldo Viana discursaram sobre os progressos da vila. Na época era comum que os locais de festas fossem ricamente ornamentados, com folhas verdes atapetando os soalhos, flores suspensas por hastes pensas nos tetos e bandeirolas, sob queima de fogos, música, toque da banda, seguido de versos declamados de Castro Alves, Guerra Junqueiro e Gonçalves Dias e outros com muita cerveja, além de chá e biscoitos.

Ainda em 1914, houve a importante estréia da iluminação pública, resultante do trabalho da caldeira a vapor de força de 12 cavalos movidos pelo dínamo, ambos oferecidos pelo Governador Marcondes de Souza e montados juntamente ao reservatório de 60 mil litros, na região do "Triângulo" (entre "Entre Morros" e "Santa Rita"). Em seguida, à inauguração da água canalizada, houve grandes comemorações com queima de fogos e baile à noite no salão nobre da Câmara. As contas de água eram chamadas de "pennas d' água".

Em 1914 também foi inaugurada a primeira máquina a vapor para beneficiar café. No mês seguinte, inauguraram-se a Praça Geraldo Vianna e sua Fonte Luminosa ao som da Lyra 7 de Setembro na presença de toda a população. Os filetes coloridos jorravam borrifando a plateia, sob alegre queima de fogos. Em janeiro de 1914, funcionou o primeiro Pavilhão Cinema Pinheiro, com projeções ambulantes, e em seguida o Salão Cinema Ideal, "Cinema-Palco" para projeções permanentes. A primeira apresentação do Pavilhão Cinema Pinheiro foi "Maria Antonieta".

Fundou-se o Sindicato União Agrícola à Av. Vieira Machado. Em 1913 no jornal "Muquyense" há referências sobre um Salão "High Life", local que vinha sendo frequentado pela elite local, da frente do qual saíam passeatas cívicas e outros eventos. Por fotos pode-se ver um belíssimo e luxuoso prédio em frente à igreja (onde em 1919 instalou-se a Farmácia Brás Fragoso) remetendo-nos à hipótese de ter sido ali onde funcionava o imponente Salão "High Life" importante ponto de encontro desde os idos de 1912 (onde era servida a cerveja Bock-Ale às conferências e reuniões), haja vista suas enormes janelas abertas e iluminadas com pessoas bem-vestidas às suas portas conforme foto de uma procissão passando pelo local (vide Galeria de Fotos), além de ser o único prédio imponente no meio de outras construções simples e também por estar de frente à Matriz da Igreja.

Igualmente no Rio de Janeiro, na fervilhante capital federal que servia de modelo para todas as províncias - e que por sua vez copiava de Portugal e, no caso do Salão "High Life", desde 1906 da cidade do Porto – este também era o nome do local da moda carioca, criado por Paschoal Segreto, imprimindo a novidade da arte em voga, espetáculos de teatro, circo e cinema, frequentados pela alta sociedade da capital federal.

O salão de Segreto no Rio iniciou-se como café-concerto e "clube elegante". Em 1908, o empresário italiano mais uma vez resolveu inovar e ali promoveu um grande baile de carnaval. Após o sucesso do evento, o prédio foi batizado com o nome de "High Life", sendo considerado, a partir de então, o mais famoso, frequentado e tradicional clube carnavalesco do Rio de Janeiro até os anos 40, modismo logo copiado pela elite capixaba, daí as referências em o "Muquyense" já em princípios de 1913.

Quanto ao cinema, a partir do aperfeiçoamento do cinetoscópio (inventado por Thomas Edison, que também inventou a lâmpada), aparelho dentro do qual podiam ser vistas imagens de filmes perfurados, por um espectador de cada vez, os irmãos Lumière, em 1895, idealizam o cinematógrafo. O aparelho – uma espécie de ancestral da filmadora – é movido a manivela, utilizando negativos perfurados, substituindo a ação de várias máquinas fotográficas para registrar o movimento. O cinematógrafo torna possível, também, a projeção das imagens para o público e não mais individualmente como antes.

O nome do aparelho passou a identificar em todas as línguas a nova arte do cinema, embora na época o cinema mudo. O melhor equipamento era de origem francesa, o Pathè Frères, de maravilhosa iluminação elétrica, exatamente o que chegava para realizar as inéditas funções no arraial. O "Pavilhão Cinema" era de propriedade de Aristides Pinheiro, que ficava alguns dias na vila e seguia para outras paragens divulgando sua arte. Dois anos mais tarde, voltou a Muqui, sob a direção do faquir Aristobolo Pinheiro, como Circo-Cinema Pinheiro.

Os primeiros filmes apresentados no Cine Ideal da vila foram: "A Vida de Cristo", "A Guerra Européia", "A Vingança da Algeriana", "Os Tormentos da Guerra", "Romance da Pequena Operária", "Dia da Caça", "Tantoline Boxeur", "O Vingado". Ali também foram encenados o episódio dramático "Pela Pátria" e a fina comédia "Os Heróis do 13o ". As cadeiras eram vendidas a 500 réis e as gerais por 300 réis. Em 1919 foi vendido a João Morini, em 1920 a Vicente Cândido Ferreira e em 1922 a Octávio Caldeira da Cruz ao lado do sócio Aguinaldo J. de Sá. Em 1931 passou à Cia. Girão.

Na véspera de Natal de 1913 aconteceu uma enorme tromba d' água entre as Fazendas "Primavera" de Matheus Paiva e "São Francisco" de João Vieira da Fraga, na divisa com a Fazenda "Santa Tereza" de Alfredo de Carvalho, na atual saída para Cachoeiro, quando se estabeleceu uma correnteza violentíssima, com o auxílio emprestado de madeiras e destroços arrastados vertiginosamente, arrebatando o engenho da serra e seus trabalhadores além de o moinho que abriu uma brecha na cabeça de Alberico Leal e Elpídio da Costa, quase tragados pela lama, que os arrastou a enorme distância do local onde trabalhavam.

Em 1913, José Cúrcio & Filhos avisam a Sociedade Anônima de Pecúlios que foram nomeados banqueiros locais da Zona da Mata. Em 1914, 200 mudas de eucalipto foram distribuídas à população pela Prefeitura Municipal. Edith Serpa, Alayde Serpa e Odete Vianna formaram-se normalistas também em 1914.

Em 1915 a Prof. Aracy Serpa fundou a Escola Particular, escola mista de ensino primário, onde também eram administrados trabalhos de agulha. Em 1915 fundou-se o Club Carnavalesco "Vencedor" (em 1926 o "Larga o Osso") e o Jornal "O Gury". Em 22 de agosto de 1915, José Assad José vendeu a Fazenda Santa Rita ao Cel. João Lobato e a Floresta para Antônio de Freitas Lima.

Em 1916, fundou-se a Saboaria Werneck, fábrica de sabão e de sabonetes finos, virgens ou refinados, e em pó para barbearias, fabricando 30 mil quilos por mês, de Sylvio Pellico de Miranda. Sabonete de alface: 1 barra 800, 1 dúzia 8$000. Foi inaugurada a Fábrica de Fogos São José.

Em 1916 foi fundado o Internato e Externato São João Batista pela Profa. Aurora Gonçalves Norbin, com duração de 4 anos, além de administrar trabalhos de agulha como bordados a branco, filó, seda, ouro, prata, fita, fracó, missangas, marcas, matizes, crochê, lã, senho a crayon, matrículas até 10 anos de idade.

Também em 1916, a segunda capela construída sobre a primeira ficou totalmente pronta, após doações espontâneas e recolhidas pelos "fabriqueiros" da Capela, comissão eleita por auto de posse emitida pelo bispo Don Fernando de Souza Monteiro em 1910 para este fim, conforme explicado anteriormente.

Nesta data já existia a banda Lyra Muquyense. A Banda Euterpe, conhecida por "philarmonica local", tocava desde 1913 sob a direção de Manoel Vicente, sendo que a Sociedade Euterpe foi fundada em 1917, quando contrataram o regente Prof. Benedicto Trancreto. O Cine Ideal em 1917 apresentou uma atração impressionante vinda de Campos, quando José Mendes ficava enterrado vivo por 60 minutos dentro de um caixão debaixo de uma cova de terra no centro do palco, enquanto a platéia assistia a outros filmes. Já existiam também registros de roubo de lâmpadas da iluminação pública. Também em 1917 fundou-se o Jornal "O Jacaré".

Em 1917 foi fundada a primeira fábrica de macarrão de Gabriel Mamari, também criado o Tiro Brasileiro de Muquy 419 incorporado à Confederação de Tiro Brasileiro sob o comando do Cap. Olynto Pereira Botelho, em local próximo a via férrea, com extensão total de 500 m com alvos intermediários a 100, 200, 300 e 400 m, sendo seu presidente, Geraldo Vianna. O Tnte. Guilherme Manoel Cirillo foi seu instrutor em 1930.

Em 1917 chegou a Muqui o conceituado e humanitário médico, Djalma Poty Formel, cuja casa hoje é mantida pela filha como museu para visitação, sendo que iniciou seu atendimento no Hotel dos Viajantes, como já mencionado anteriormente. O casarão hoje denominado "Carolina Haddad" constava como sendo do Cel. Fernando Bastos já desde março de 1917 (O "Muquyense" No. 214), tendo sido o primeiro casarão a receber platibandas, reforma inaugurada em 1923. O casarão verde "Villela", à Praça Municipal, existia antes disso, em 1921, pois já aparecia ao fundo em fotos antigas, embora sem as varandas, que como em todas as outras casas da época foram aplicadas em um segundo momento.

Também em 1917 a juventude local formou um time de futebol, o "Alavanca Futebol Club" sob a direção do capitão Poncílio Massena e seu extrema-direita, Álvaro Freitas Lima, reunindo-se em almoços de confraternização e bailes depois dos jogos amistosos, o precursor dos futuros times da cidade. Seu primeiro presidente foi Walter Macedo.

Em setembro de 1918, foi inaugurada a Usina da Cascata, propriedade do Cel. José Lopes de Oliveira, sendo que a comitiva seguiu a cavalo ao Alegre. Três quilômetros distanciavam o Alegre de Mimoso do Sul quando inauguraram a Usina Aparecida sob calorosa queima de fogos.

Fundou-se então a Companhia de Eletricidade Muquy do Sul na Fazenda Aparecida, onde funcionava a poderosa turbina sueca Pelton de 225 cavalos conjugada com gerador e excitador de 160 cavalos, que passou a alimentar e cidades do sul do estado. Aurélio Rodrigues Alves foi por muitos anos o diretor-presidente, sendo que no início da década de 1930 chegou a segundo maior acionista com um total de Rs 136:000$000. Porém o maior acionista era o Sr. Amador Pinheiro de Barros, com Rs 284:500$000, sendo Caetano Siano seu representante em Muqui. O gerente-geral da empresa foi Guilherme Manoel Cirillo que ali trabalhou por mais de 10 anos.

Nestes tempos da fundação, lindos postes "art nouveau" de ferro batido foram instalados à frente da igreja e na Praça Geraldo Vianna. Um coreto na praça de estrutura metálica foi construído para acomodar a banda em festas e retretas aos domingos e feriados, sendo seus construtores, Theophilo e Guilherme, e custou Rs 71:000$000. Em 1919, arborizou-se o Jardim Municipal, que na época era rebaixado, tendo seu acesso por uma escadaria de dois degraus que o circundava e um chafariz ao meio. Em junho foi fundado o Muquiense Sport Club onde se praticavam vários esportes.

Também em 1919, fundou-se o Colégio São João. Estabeleceu-se a Companhia Telefônica dando início em fins de 1920 ao Serviço Telefônico aproveitando-se os postes da rede elétrica, inicialmente entre Muqui e Mimoso, sendo a primeira fazenda beneficiada com este serviço a Fazenda "Monte Alegre", de Rambalducci & Irmãos, mais tarde a "Bom Destino", a "Várzea Alegre", a "Santa Rita" e a "Palmital".

Logo após também em novembro de 1920, houve um grande piquenique em comemoração ao aniversário da Proclamação da República. Na volta todos foram para um baile na residência do Sr. Sebastião Ribeiro, ao som de afinada orquestra que tocou diferentes trechos musicais sob o comando do maestro Cafuncho, até altas horas da madrugada sempre servidas bebidas finas e chás.

Em 24 de julho de 1920 o Pref. Luiz Siano sancionou a lei No. 27, votada e decretada pela Câmara Municipal que regulou as construções de prédios com platibandas. A lei foi editada em o "Muquyense" No. 387 dia 8 de setembro de 1920. Em 1921 foi sancionada a Lei que regularizou a construção das calçadas das casas erguidas e futuras, serviço iniciado em frente ao Prédio da Câmara pelo empreiteiro Severino Vasquez, durante o mandato do Pref. Luiz Siano.

Em janeiro de 1921, houve a maior enchente até então conhecida que prejudicou as plantações e derrubou muitas pontes inundando 40 casas com 0,90m acima do soalho, arrastando pontes com pedras e entulhos rolando pela vila. Houve também uma tromba d' água nos idos de 1936, para os lados da Morubia, matando uma família, e outra grande enchente em 1950, causando enormes prejuízos, inundando as casas comerciais na avenida central, pois para lá o rio desviou seu leito de lamaçal.

Fazendo um triste parêntese, em 2011 novamente Muqui foi assolada de madrugada, pegando os moradores de surpresa, pela pior tromba d'água ocorrida até o momento, trazendo muita tristeza e desolação à população, deslocando famílias, que perderam suas casas, muros, objetos, suas lojas e negócios inteiros destruídos. Muito se estragou. Muito se perdeu. A cidade luta para se recompor, refazer suas pontes que foram todas levadas pela lama e pela forte correnteza. Porém foram apenas perdas materiais, felizmente não houve mortes.

É de conhecimento dos moradores que na tromba d' água de 1936 uma mãe foi encontrada degolada, porém com seu filho agarrado aos braços no meio do lamaçal depois de ter sido dragada pelo lodo, mostrando o ato de bravura do sentimento maternal. O marido salvou-se já que havia corrido para proteger os animais. Outra família sofreu grandes perdas no Entre Morros, parentes da Da. Inuti, conhecida antiga moradora da cidade, que presenciou décadas de acontecimentos desde que Muqui era Vila.

Em 1921 receberam a visita do Circo Íris, cujo diretor era o conhecido artista brasileiro Narciso de Abreu. A equipe artística resumia-se a Roberto Pery Pantojo, Carreifa, Espiga (palhaço e músico) "O Rei do Riso", Basílio Monteiro "O Equilibrista Mundial", Pery "O Argolista da Fama", Biriba e Careca, Zizinha "A Rainha do Equilíbrio", Toinho "O Trapezista sem Igual", Lili, cantora brasileira e Íris, o cavalo amestrado de maior sucesso no Brasil da época. Houve apresentação do Mágico Victor com o "Chapéu Milagroso" e "Restaurante de Satanás".
 

Pelos idos de 1921 o número de alunos superava duzentos e o Prof. Olympio Vianna foi contratado para dar reforço educacional aos moradores. Em 1922 sugeriu-se fundar o Colégio São Geraldo à Rua João Jacintho como melhoramento para a sociedade que crescia a fim de que as famílias não enviassem seus filhos para cidades longínquas muitas vezes de péssimo clima, em sistema de internato e externato, oferecendo curso primário, médio e secundário, além de o comercial, sob a direção do Reitor Prof. João Leite.

 

Em 1922, Elias Assad passou a dono do Cine Ideal. Neste ano passou a funcionar o Serviço Gratuito de Assistência Dentária para estudantes. Neste ano de 1922, Muqui ajudou financeiramente na construção da estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, arrecadando Rs 200:000$000 (duzentos contos de réis) através do projeto-lei enviado pelo Deputado Federal Geraldo Vianna. O monumento foi proposto em 1921 pelo Círculo Católico do Rio de Janeiro em comemoração ao centenário da independência do Brasil. O bispo D. Sebastião Leme coordenou uma comissão para arrecadar fundos junto à população. Em 1923, foi organizada a Semana do Monumento e no país inteiro as paróquias arrecadaram doações para a construção. No bairro do Cosme Velho no Rio de Janeiro, pessoas desfilavam com lençóis abertos onde o dinheiro era atirado das janelas e recolhido. O custo da obra foi de Rs 2.500:000$000 (dois mil e quinhentos contos de réis) hoje aproximadamente R$ 6 milhões de reais.

 

Como curiosidade, a Estátua da Liberdade em Nova York, ao contrário, consumiu 13 anos para sua execução, um milhão de dólares de custo, naquela época, e subvencionados por duas nacionalidades, enquanto o monumento do Corcovado foi construído em apenas 5 anos e à custa apenas de doações e ofertas espontâneas de brasileiros. Um particular das dimensões da estátua: a mão com a estrutura interna pesa 9 toneladas e fazendo-se o cálculo do peso de uma barrica de cimento, comum na época, que pesa 150kg conclui-se que foram necessárias 60 barricas só para a construção deste detalhe. O comprimento dos braços, de uma extremidade a outra, se a estátua fosse colocada no centro da Av. Rio Branco no RJ os dedos tocariam a fachadas antagônicas de tão longos. Somente a cabeça pesa 20 toneladas, um dos braços, 27 e a vestimenta, 270 mil quilos. A altura atinge 30m, excluindo o pedestal que tem 8m, onde há uma capela para 150 pessoas. A única estátua maior do que esta é a da Liberdade, com 4m a mais de altura.

 

O Cristo foi moldado no local, com doações do povo brasileiro. Foi utilizada a nova técnica da época, o concreto armado. É revestido de pequenas pastilhas de pedra-sabão que foram aplicadas e cimentadas na estátua depois de serem montadas em partes por cariocas na Igreja Nossa Sra. da Glória no Largo do Machado. Existe uma lenda que a estátua do Cristo foi doada pelos franceses ao Brasil, mas não é verdade. Foi idealizada pelo engenheiro, Heitor da Silva Costa, com colaboração de um calculista francês, um escultor polonês, Paul Landowsky, e um artesão que confeccionou a grande maquete, todos contratados pelo desafio técnico de construir-se uma estrutura de concreto armado pesando 1.145 toneladas naquele local. A inauguração do Cristo foi um acontecimento inesquecível para a época. Na noite de 12 de outubro de 1931, os cariocas ficaram de queixo caído quando as luzes que iriam iluminar a estátua foram acesas à distância, acionadas da Itália pelo inventor do telégrafo sem fio, Guglielmo Marconi.

 

Em 1923, fundou-se o Colégio São João, sistema de internato e externato, em um sobrado à Rua Cel. Luiz Carlos. Neste mesmo ano aconteceu a primeira grande reforma do Jardim Municipal e também foi inaugurado o calçamento das ruas, quando a fita inaugural foi cortada pela comitiva do prefeito bem em frente ao Palacete Bighi quando ainda no local estavam as duas casas geminadas primitivas, poucos anos antes de serem demolidas para dar lugar ao palacete.

 

Após a reforma do Jardim, em março de 1923, o Padre José Bernardino à sua inauguração lançou uma bênção sobre a pedra fundamental do então previsto Grupo Escolar Nestor Gomes em homenagem ao governador de 1920 a 1924 (porém que em 1925 recebeu o nome de Grupo Escolar Marcondes de Souza, acompanhada de uma porção de argamassa de cimento em uma tampa de granito que encerrava um exemplar de o "Muquyense" e outro da revista "A Primavera" e algumas moedas, evento solenemente aplaudido.

O terreno com 1.972 m² foi doado pelo Bispo Benedito Paulo Alves de Souza, área do Patrimônio da Igreja. Como dito anteriormente, nesta época foi construída uma fonte circundando o chafariz já existente, ao redor do qual quatro sapos verdes de porcelana jorravam água em direção ao centro.

Dia 29 de julho de 1923 foi inaugurado o Palacete "Fernando Bastos", atual "Carolina Haddad". Nesta época muitos dos casarões foram erguidos, como a Casa "Aurélio Rodrigues Alves, atual Casa "Villela" (1921); Casa "Luiz Siano", atual "Ana Fraga"; "Geraldo Viana", depois chamada de "Mathurino Carvalho", hoje "França"; Casa "João Cúrcio", hoje "Porcari" da família César Caçadini; Palacete "Alexandre Ayub", hoje de Leny Ayub. Pouco mais tarde foi construído o Palacete "Bighi" e também o de Ney Rambalducci, adquirido por seu pai, Waldemar, anos mais tarde, pois em 1923 o imóvel primitivo era de Honório Waltrudes Ribeiro comprado de Fortunato Custódio Ribeiro, onde no piso térreo antes da reforma maior chegou a funcionar uma completa padaria.

Rocha Firmo & Cia também foi dono do hotel em frente à Estação, adquirido de Agostinho Rodrigues em 1923 com 699 m2, que havia sido comprado de Satyro França. Em novembro de 1924 o Cine Ideal anexa o prédio contíguo após aplicar uma platibanda com a data da reforma e o nome Bar Ideal, decorando-o com altos e elegantes balcões de madeira envidraçados e pede licença de funcionamento na Prefeitura (O "Muquyense" No. 599), sendo que na parte posterior em setor privado oferecia mesas de bilhar para os clientes aproveitarem depois das sessões de cinema. Atrás da Estação surge o Hotel Minas Gerais, construído por José Assad José a partir de 1924, finamente decorado numa área de 340m2, mas que apenas funcionou em abril de 1926 com o nome de Palace Hotel vendido a A. Miranda & Cia.

Porém foi readquirido em 1930 por José Assad José, com gerência de Júlio Barreto. A reinauguração aconteceu em alto estilo em um jantar para 40 talheres na presença de importantes políticos. O andar de cima foi ampliado recebendo alas modernas para os quartos. No andar térreo foram instaladas seções de bar e bilhar, sala de refeições luxuosa com lugar para orquestra, cozinha totalmente aparelhada. A decoração era sóbria, porém elegante, com uma clarabóia sobre a sala de refeições dando-lhe encanto e luminosidade. Serviriam ali já o afamado Chopp da Brahma. Possuíam estação de força em caso de falta de energia, instalação de rádio, reservatório de água de 20.000 litros, barbearia, engraxataria, etc. Depois de discursos e da bênção, a inauguração foi coroada com um baile no local.

Voltando a 1923, também foi inaugurada a Tipografia Sandoval de Pedro João Vieira Machado.

Em 1924 inaugurou-se a elegante loja Luiz XV, de Pedro Leite de Araujo (Araujo & Cia) onde eram vendidos cristais, tecidos finos, meias de seda, perfumes, pasta dental COLGATE, etc. que esteve em dois endereços, um à frente da estação passando depois para a esquina do Jardim Municipal em frente ao atual restaurante Faito's.

Também em 1924, José Assad José teve a ideia de abrir uma fábrica de gelo, que foi instalada no Cine Ideal, de propriedade de Siro Tedoldi para conforto do público que ali frequentava. Em 1925, Pedro Pavani, além de pirotécnico, teve uma "ideia estrondosa" quando providenciou a "Auto-Avenida"; um meio de transporte inédito que ia do começo ao fim da vila, cobrando 200$000 ida e volta. Em 1925, Pedro Pavani também fundou uma Fábrica de Macarrão, à Rua João Jacinto, mesmo ano em que foi criada a Caixa Escolar por Mirabeau Pimentel para melhorar as condições do ensino no Grupo Marcondes de Souza.

Em 1926, a loja Cheibub & Cia anunciava seus produtos: Gasolina Atlantic e Kerosene Sol. Em 1926 a Prefeitura Municipal havia vendido o segundo prédio da Câmara onde estavam desde 1913 para José Assad José. Ali ele montou o elegante Cinema Vitória, bar e club recreativo. A primeira apresentação do Cinema Vitória foi a película em 6 partes "Sublime Poesia do Sacrifício" com Norma Schearer.

Este prédio da Câmara teve que ser vendido pela Municipalidade para resgate da dívida flutuante com o Governo estadual. A prefeitura então se instalou modestamente à Praça João Pessoa, nome anterior à praça do Jardim Público, no prédio de uma antiga escola paralela aos trilhos, praticamente de frente à "Sempre Viva", onde ficou até 1930, época em que se deu a grande reforma do Jardim, momento em que a Prefeitura assinou um contrato de arrendamento até 1934 para uso do imóvel de Osório Ribeiro da Silva, ao lado da casa do Dr. Mileto na rua lateral ao Jardim, ex-casa de Nenê Paiva, atual casa da família Maria José Ribeiro ("Preta") onde também funcionou o Correio e o Telégrafo. Não se tem notícias para onde a Prefeitura mudou-se enquanto reformava o Hotel Glória obras terminadas em 1939.

Em 1926 o Prof. Olympio Vianna e Prof. José Francisco Cabral abriram um curso noturno, no Edifício do Grupo Escolar, onde administravam aulas de aritmética, português, geografia, ciências físicas e naturais, além do curso comercial. Em 1927 a família Freire fundou o Colégio Ubaldo Ramalhete sendo que em 1930 passou a ser a escola oficial Remington de datilografia. Jesuína de Castro David também foi exímia professora de datilografia. Em 1928 foi criado o Colégio Espírito Santo, oferecendo curso primário complementar e secundário, dirigido por professores diplomados pela Escola Normal do Distrito Federal.

Em 1927 o Bar High Life foi reinaugurado, em outra versão, contíguo ao Palace Hotel, sob administração de João Mamari, onde ofereciam serviços de bilhares e restaurante. Rocha Firmo & Cia. foi o primeiro fabricante da Manteiga Sabiá, pois em abril de 1930 editou-se uma reportagem no "Muquyense" onde diz ter sido saboreada uma provinha da deliciosa manteiga Sabiá cuja lata de 500 g era examinada pelo Laboratório Bromatológico do Rio de Janeiro.

Quanto ao aforamento, Rocha Firmo iniciou o pagamento dos foros onde estabeleceu a fábrica à antiga ponte (antigo leito do córrego Boa Esperança) com 240 m2, 12 de frente e 20 de fundos em 1932, pois adquirira a posse da viúva de Fortunato Fraga que aforava a área desde 1928. Sabe-se que a Fábrica passou para João Vieira da Fraga em 1933 e então para Raul Machado Paraguassu.

O Banco Espírito Santo abriu uma agência em Muqui em 1928. Também em 1928, com ajuda de beneméritos e moradores desde 1927, a Irmã Paulina, Irmã Margarida, Irmã Inez, Irmã Tereza e outras religiosas construíram e fundaram o Colégio Paroquial Don Fernando de Souza Monteiro, no Alto da Boa Esperança, com bênção da Capela São José e das imagens da Santa Família e de Santa Terezinha do Menino Jesus.

Em 1928, com ajuda de beneméritos e moradores desde 1927, a Irmã Paulina, Irmã Margarida, Irmã Inez, Irmã Tereza e outras religiosas construíram e fundaram o Colégio Paroquial Don Fernando de Souza Monteiro, no Alto da Boa Esperança, com bênção da Capela São José e das imagens da Santa Família e de Santa Terezinha do Menino Jesus, onde mais tarde funcionou o internato feminino do Colégio de Muqui.
A Irmã Paulina era carinhosamente chamada pelos alunos de "Irmãzinha". A Profa. Maria da Penha Abreu Vieira deu aulas neste colégio ao redor de 1928 e 1929. Entre 1929 e 30, ano em que se casou, a Profa. Maria da Penha passou a dar aulas na Fazenda do seu tio Alcino, no Alto da Boa Esperança e, após seu casamento, abriu sua própria escola em 1930, no Entremorros, onde passou a morar, lecionando numa pequena casinha por muitos anos, conforme recordação de Irma Cirillo.

Os uniformes dos alunos foram mudados em 1930 a pedido dos pais e o novo tecido encontrava-se na Casa Cúrcio, a fim de obedecer a medida de 5 cm abaixo dos joelhos. Ali se administravam aulas do primário ao 1º. Normal, mas o colégio não progrediu e fechou em 1931, quando foi anunciado o arrendamento no "Muquyense". A Congregação viu-se obrigada a encerrar as atividades escolares no antigo convento por falta de matrículas suficientes, a fim de que a manutenção do educandário fosse viabilizada, transferindo as freiras para outra cidade, quando Irmã Paulina tomou a gerência da Escola Normal de Valença, RJ.
As freiras moraram também em uma chácara quase em frente ao atual prédio do Jardim de Infância, à Av. Vieira Machado, onde na década de 1920 morou a família Borges. No entanto no Livro de Tombo da Igreja encontra-se nesta época a chegada da Irmandade "Pia União das Filhas de Maria", embora os relatos citem irmãs da Congregação da Sagrada Família.

Anos depois, as irmãs voltaram a Muqui, provavelmente na época posterior à morte de José Rambalducci, em 1936, proprietário do casarão à entrada de Muqui, no bairro Entremorros, hoje Dico Bernardo, enquanto a família talvez procurasse vender o imóvel, estando suas alas sociais desabitadas, aproveitando então as freiras para reabrir a escola em seus porões. Sob a ala principal ainda existe um grande espaço aberto, entre as colunas de pedra, correspondente à area total do piso superior, que na década de 40 serviu para abrigar a escola de freiras, pois os porões ofereciam inclusive uma conveniente área de recreação para os alunos.

Ester Abreu Vieira de Oliveira, filha da Profa. Maria da Penha Abreu Vieira, confirmou que foi por sua mãe ali alfabetizada entre 1941 e 1942, confirmando esta informação. Pelos idos de 1946 a Profa. Maria da Penha passou a dar aulas na escolinha da Cachoeirinha, na Fazenda do mesmo nome.

Na década de 1930 o Bar Ideal anunciava Cerveja Teutonia a Rs 82$ a caixa; Cerveja Fidalga a Rs 80$ a caixa; Guaraná a Rs 80$; Soda Limonada, Rs 75$; Água Soberana, Rs 1$200 a garrafa; Água Caxambu, Rs 1$500; Phosphoro, pacote Rs $900 e café média a Rs $300. Com o advento dos automóveis Ford e Chevrolet e a chegada de suas agências em Muqui, Siano e Irmãos passaram a ser os depositários doQuerosene Jacaré e da Gasolina Motano distribuída na primeira bomba de gasolina em frente à Casa Vermelha.

Em 1931 lê-se um anúncio em o "Muquyense" vendendo um locomóvel de 7 cavalos na Oficina Sediva. O locomóvel foi usado no início do século XX, principalmente nas grandes indústrias. Foi também utilizado na produção de energia elétrica primária em muitas cidades do interior, até o advento dos serviços hidroelétricos no Estado. São procedentes da Inglaterra do início do século XX. Sua caldeira é movida a lenha, usada para gerar vapor e alimentar equipamentos.

Em 1931, providenciou-se a última reforma do Jardim Municipal, para resultar no que se encontra hoje, aterrando uma área de 4.554 m2 por 0,90 m de altura, serviço contratado no valor de Rs 3:000$000 do empreiteiro Arthur Juncá Monteiro, além de o sistema de esgoto e das caixas para receber o aterro. Ali provavelmente jaz o antigo chafariz e seus sapos verdes de porcelana, sob a nova forma do jardim que hoje traz o estilo francês "Versailles".

Em 1931, o Prof. Osires Lopes sugeriu a fundação de um novo colégio na cidade que seria dirigido pelo Dr. Ávila Junior, diretor do Colégio Pedro Palácios em Cachoeiro de Itapemirim, que também não se concretizou. Foi quando em 1933 o prédio do Colégio Don Fernando serviu para abrigar as aulas durante os 6 meses de reforma das instalações da Santa Casa e mais tarde como internato feminino e moradia do diretor do então bem-sucedido Colégio de Muqui.

Em 1923, a Vila São João de Muquy foi elevada à categoria de cidade pelo então Presidente do Estado, o Governador Nestor Gomes. Foram distribuídos 214 kg de carne bovina aos pobres. Ouviram-se 21 tiros de dinamite. A Banda Sociedade Euterpe desfilava tocando dobrados alegres pelas ruas da cidade, até que todos se encontraram em frente ao prédio da Câmara onde foi hasteado o pavilhão nacional sob a cadência do hino nacional. Houve estrondosa salva de dinamites e foguetes.

O desembarque das autoridades na "gare" (estação) foi acompanhado por políticos e fazendeiros eminentes, sendo que todos seguiram para o palacete de Geraldo Viana para as comemorações. À noite foi servido delicioso serviço de bufê coroado com baile que terminou altas horas da madrugada.

E assim nasceu Muqui, nossa Cidade Menina.

 

 

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